Comunistas russos pedem reconhecimento das Repúblicas Populares de Lugansk e Donetsk na Ucrânia

Comunistas russos pedem reconhecimento das Republicas Populares de Lugansk e Donetsk na Ucrania
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O secretário-geral Gennady Ziuganov postou em sua conta no Twitter que a Duma, o parlamento russo, aprovou a resolução apresentada pelo Partido Comunista da Federação Russa apelando que o presidente Vladimir Putin reconheça as Repúblicas Populares de Lugansk e Donetsk na região de Donbass. Em sua postagem, o político eurasiático ressaltou que a fração do PCRF insiste desde 2014 na medida.

Comunistas russos pedem reconhecimento das Republicas Populares de Lugansk e Donetsk na Ucrania

Em artigo para o site do Partido Comunista, Zyuganov ressaltou que a tal “tensão” na fronteira entre Rússia e Ucrânia não passa de uma estratégia imperialista para disseminar o caos em países de Terceiro Mundo. É a mesma visão a respeito das mutações do imperialismo estadunidense defendida pelo trabalhismo na obra de um dos fundadores do PDT, Moniz Bandeira, sobretudo em sua trilogia voltada especificamente para o assunto: “Formação do Império Americano”, “Desordem Mundial” e “Segunda Guerra Fria”.

O secretário-geral destaca que as derrotas sofridas pelo Império Estadunidense desde o Vietnã resultaram em uma mudança em seu modo de atuação, privilegiando as chamadas “guerras por procuração”, conhecidas na literatura pela expressão em inglês “proxy war”. No lugar das próprias forças imperiais serem comprometidas, empregam-se tropas locais que são enganadas, corrompidas ou alienadas ideologicamente para defender interesses geopolíticos e geoeconômicos das burguesias centrais. Diz Zyuganov:

“Washington foi derrotado em todas as guerras nas últimas décadas. Coréia, Vietnã, Iraque, Afeganistão são apenas alguns dos países em que os Estados Unidos desencadearam guerras e perderam de forma inglória. Agora eles estão ansiosos para lutar por procuração. Desta vez, os “falcões” de Washington decidiram transformar os ucranianos em “bucha de canhão”. A cobertura política, o fornecimento de armas, as atividades dos instrutores ocidentais – tudo isso empurra abertamente as autoridades de Kiev para uma sangrenta aventura militar.” [Todas as traduções são do google tradutor]

O comunista também destaca que as relações entre Rússia e União Europeia estão na mira dos “falcões de Washington”. Como José Luis Fiori comentou extensamente, há uma dimensão energética no conflito, na medida em que está em jogo o fornecimento de gás natural russo para os países europeus. Os EUA possuem interesse que a estes países passem a depender da importação do caro gás liquifeito produzido por empresas do outro lado do Atlântico:

“Os globalistas americanos definiram a tarefa não para proteger a Ucrânia, mas para sair da crise aguda do capitalismo. É extremamente importante para eles obter novos benefícios torpedeando o gasoduto Nord Stream 2 e fisgando a economia da UE na agulha de seu caro gás liquefeito. Este é o verdadeiro pano de fundo da atual crise militar em torno da Ucrânia.”

O político eurasiático ressaltou que o reconhecimento das duas Repúblicas Populares na região do Donbass é da mesma necessidade estratégica que a contenção das “revoluções coloridas” patrocinadas pelos países imperialistas na Geórgia (onde a Rússia interveio incorporando as províncias da Abkhazia e Ossétia do Sul) e mais recentemente no Cazaquistão:

“A Rússia está finalmente se afastando da idolatria perniciosa do Ocidente. […]. Mesmo então, há quase dois séculos, os objetivos das potências ocidentais em relação aos nossos povos e à irmandade eslava eram claros. Isso significa que hoje é extremamente importante mostrar a vontade na forma como foi feito nos dias de apoio aos povos da Abkhazia e da Ossétia do Sul em 2008, e na forma como apoiamos os governos legítimos da Síria, Bielorrússia e Cazaquistão. É hora de mostrar caráter no Donbass.”

O Partido Comunista faz oposição ao governo de Putin. Apesar disso, Zyuganov não deixou de apoiá-lo enquanto chefe do Executivo russo em sua resistência contra a ofensiva imperialista, ressaltando a defesa que seu Partido fez desde de 2014 da necessidade do reconhecimento das Repúblicas Populares de Donetsk (DNR) e de Lugansk (LNR):

“Estamos prontos para apoiar as medidas decisivas das autoridades oficiais para proteger a segurança da Rússia e de nossos concidadãos nas repúblicas populares de Donbass. E insistimos na sua adoção imediata. Desde 2014, pedimos de forma consistente e constante o reconhecimento oficial do DNR e do LNR. A voz de milhões de seus habitantes foi claramente expressa em um referendo em maio de 2014. E ele deve ser ouvido!”

O secretário-geral não deixou de criticar os rumos da economia russa e de toda a antiga região da URSS. Segundo o mandatário comunista:

“É claro que apenas uma mudança fundamental no caminho de seu desenvolvimento garantirá a proteção efetiva dos direitos das amplas massas populares em nosso país. O Partido Comunista da Federação Russa não aceita o curso socioeconômico em curso, oferece aos trabalhadores um programa de transformações ‘Dez Passos para o Poder do Povo’ e o caminho do renascimento socialista. Mas há questões que precisam ser tratadas imediatamente.”

Em outro artigo para mesmo site, Zyuganov lembrou das palavras do dirigente nazista Rosenberg e seu plano para estimular o divisionismo na Ucrânia no chamado “Memorando nº 1” apresentado para a Adolf Hitler em 1941. O documento fazia parte dos planos de colonização para o Leste Europeu por parte do imperialismo alemão. Por todo texto, o secretário-geral mostra a continuidade entre o regime instalado em Kiev pelos EUA e os colaboracionistas nazistas como Stepan Bandera:

“O sonho louco dos falcões de Washington é o massacre fratricida de nossos povos. Sua chama pode queimar a Ucrânia e queimar a Rússia. Sob a cortina de fumaça da ‘invasão de Moscou’, a oligarquia mundial ativa o projeto ‘Anti-Rússia’ e realiza provocações perigosas. Trombeteando sobre a prontidão da Rússia para atacar a Ucrânia, os EUA e a OTAN estão bombeando armas para os governantes de [Stepan] Bandera.”

O mandatário comunista lamentou a dissolução da URSS e colocou a “tensão” provocada pelas potências imperialistas na mesma sequência de agressões que levou a destruição da Iugoslávia e todos os retrocessos no Leste Europeu desde então.

Em declaração do Comitê Central traduzida para diversas línguas, o Partido Comunista da República Popular de Donetsk destacou que há uma ofensiva imperialista em curso que instrumentaliza o regime de Kiev. Segundo os comunistas de Donbass, que compõe fração da atual frente parlamentar no Legislativo de Donetsk, foram registradas várias provocações no território da República Popular na forma de pequenas agressões, visando estimular o conflito instado pelas potências ocidentais.

Navegando pelo site dos comunistas de Donetsk, não deixa de chamar a atenção que recentemente fizeram uma live com a SDAJ, órgão da juventude dos comunistas alemães.

Em entrevista recente, Mikhail Kukhtin, chefe do departamento de relações internacionais do CC dos comunistas de Donetsk, não poupou críticas a adesão russa ao capitalismo mundial, que em sua opinião é o que está no caminho de uma solução duradoura para interferência imperialista na Ucrânia:

“A Ucrânia é um típico estado falido controlado por atores políticos estrangeiros. Por outro lado, apesar de seu inegável peso geopolítico, é difícil para a Rússia conseguir um acordo aceitável na Ucrânia. Os planos de Moscou são contestados pelo Ocidente, mas, ao mesmo tempo, o próprio envolvimento da Rússia no sistema capitalista global a impede de resolver problemas que não podem ser superados sem transformações socialistas.”

Por fim, vale a pena destacar a posição de Sergei Udaltsov, líder da radical Frente de Esquerda e ardente opositor de Vladimir Putin:

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Mesmo apoiando Putin contra as agressões imperialistas e sua tentativa de incitar o conflito entre Rússia e Ucrânia, os seguidores de Udaltsov – membros da Frente ou ao menos simpatizantes – são contrários a uma anexação das duas Repúblicas Populares pela Federação Russa, segundo uma enquete no Twitter (mas por margem apertada):

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Udaltsov não perde uma oportunidade de “cutucar” Putin, questionando por que o governo russo não reconheceu oficialmente as duas Repúblicas Populares em 2014, como a esquerda vinha defendendo desde então:

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