Liberdade sexual e marxismo

Liberdade sexual e marxismo
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Liberdade para um marxista é uma questão concreta. O nosso conceito de liberdade é sempre coletivo e considera as possibilidades reais, históricas e concretas de escolha. O mesmo serve para liberdade sexual. É um debate que deve passar por questões objetivas como acesso à educação sexual; saúde pública, gratuida e universal; educação, cultura e possibilidades de esporte e lazer; condições econômicas gerais; direito ao aborto; combate às opressões; estrutura da comunicação de um país, etc.

Um pequeno exemplo. Quando Madonna virou sucesso mundial, tínhamos muito debate sobre Madonna influenciar jovens a começar sua vida sexual precocemente. O conteúdo de Madonna era o mesmo para uma jovem da França e do Brasil, por exemplo. Mas o nível de gravidez na adolescência na França e Brasil era (e é) bem diferente. Sem negar o debate sobre a influência da indústria cultural no comportamento sexual das pessoas, as diversas consequências disso passam por uma série de fatores que não terminam na cultura.

A forma como o sujeito recebe a expressão cultural depende das condições concretas de vida do sujeito. É fundamental nunca esquecer isso para não cair em moralismo, conservadorismo e abordagens individualizantes. Dito isso, outro ponto.

A pornografia é um problema sério. Todo país socialista, com razão, tomou medidas para restringir ou acabar com a pornografia – ao mesmo tempo, aumentou a liberdade sexual, como no caso da Alemanha Oriental.

Dessa constatação não se pode confundir pornografia com artes.

Sexo em músicas, artes, filmes, clipes, séries e afins não são necessariamente pornografia ou algo de uma cultura pornográfica. Esse caminho leva ao conservadorismo e confunde representações múltiplas e artísticas sobre sexo/sexualidade com uma indústria nociva como a pornográfica.

Acho que vale muito o debate sobre como a nossa indústria cultural trata sexualidade. Me incomoda muito, por exemplo, essa moda de exaltar pegar “novinha” (e a novinha que engravida na adolescência sabemos qual é sua raça e classe), mas incomoda muito mais a ausência de uma escola e acesso à cultura que capacite um/uma jovem a receber as informações sobre sexualidade, julgar bem, entender todas suas consequências e não sofrer com coisas como gravidez precoce ou violências não entendidas como tal.

Aliado a isso, a questão é a diversidade de oportunidades de consumo cultural. Voltando ao exemplo dessas músicas sobre “novinha”. Sou contra proibir. Quero democratizar a cultura para que as pessoas tenham opções, escolhas concretas, uma real capacidade de decidir o consumo.

Em suma, um debate altamente complexo que leva em conta diversas esferas da vida e da capacidade historicamente concreta de exercer sua sexualidade e liberdade. O conservadorismo não ajuda em nada. O liberalismo também não.

“A verdade é o todo” – Hegel.