Kassab usa Eduardo Leite para pressionar Rodrigo Pacheco a ser candidato a presidente

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O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, que se tornou um dos principais quadros do partido presidido por Gilberto Kassab, mandou um recado claro para Lula no encontro entre os dois ontem: o PSD precisa ter candidato próprio a presidente.

Como se sabe, o pré-candidato oficial do PSD até o momento é o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, que trocou o DEM pelo partido de Kassab, Paes, Alexandre Kalil e outras figuras nacionais importantes que transitam na centro-direita do espectro político brasileiro. Porém, o senador mineiro tem demonstrado pouco empenho em disputar o pleito como candidato a ser “cristianizado”. Essa expressão corriqueira da política brasileira faz referência a Cristiano Machado que foi candidato a presidente pelo antigo PSD em 1950, quando seus correligionários apoiaram Getúlio Vargas que acabou eleito pelo PTB ao invés do presidenciável oficial do partido.

Rodrigo Pacheco vai ter dificuldades de se reeleger presidente do Senado, portanto, ele avalia que não vale a pena comprar mais desgastes com outros partidos ao disputar uma eleição para cumprir tabela enquanto os diretórios estaduais do PSD na prática vão abrir seus palanques para outros candidatos, até mesmo na sua terra natal, Minas Gerais, onde Alexandre Kalil negocia receber apoios tanto de Lula como de Ciro Gomes.

Diante do corpo mole de Pacheco, o presidente do PSD busca um candidato alternativo para não se submeter a Lula já no primeiro turno e iniciou conversas para filiar o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que perdeu as prévias do PSDB para o governador de São Paulo, João Doria. A filiação de Leite seria uma saída honrosa para ele e para todos os ex-tucanos derrotados por Doria que tomou o controle do PSDB com a máquina estadual do governo paulista. Ocorre que Leite seria um candidato de verdade, pois ele teria que deixar a cadeira de governador gaúcho e arriscaria tudo na tentativa de aglutinar todo o eleitorado da chamada terceira via. Mas não é exatamente isso que Kassab deseja de um candidato a presidente pelo PSD.

O que o experiente ex-prefeito e fundador do PSD quer é justamente um candidato para cristianizar, e por isso, Rodrigo Pacheco é o escolhido, porque ele está em meio a um mandato de 8 anos e em um posto de projeção presidindo o Congresso Nacional. A cadeira de presidente do Senado seria o comitê de campanha de Pacheco, enquanto todo o fundo eleitoral do PSD vai para as chapas proporcionais para o partido eleger as maiores bancadas parlamentares possíveis negociando apoios regionais aos candidatos a presidente que forem mais adequados para cada diretório estadual.

Se de um lado, os baianos liderados pelo senador Otto Alencar e os amazonenses liderados pelo senador Omaz Aziz pressionam pelo apoio a Lula; no Rio Grande do Sul o PSD é aliado do tucano Eduardo Leite; em Minas Gerais, o partido deseja apoio tanto de Ciro Gomes como de Lula ao prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil; e no Rio de Janeiro, Eduardo Paes fechou uma chapa conjunta do seu candidato Felipe Santa Cruz com Rodrigo Neves do PDT contra o governador Claudio Castro que tem apoio de Bolsonaro de um lado, mas também contra a aliança entre PT e Marcelo Freixo.

Ainda assim, Lula pressiona para que Kassab aceite filiar Geraldo Alckmin no PSD para que o ex-tucano seja seu vice e garanta o apoio do partido já no primeiro turno. Em troca, Lula disse para Eduardo Paes que se ele fosse o candidato a governador já teria o seu apoio, e o PT também sinaliza que poderia abrir mão da cabeça de chapa na Bahia para apoiar Otto Alencar. Porém, ninguém confia muito no que Lula promete tantos meses antes do registro das candidaturas.

Alguém realmente acredita que o PT vai abrir mão de disputar a sucessão do maior estado que governa? Ainda mais com o popular e experiente Jaques Wagner em meio de mandato de senador? Na verdade, o imbróglio baiano se dá porque o atual governador petista, Rui Costa, quer a vaga de senador de Otto Alencar, que teria que se contentar em ser vice de Wagner. É por isso que o senador do PSD pressiona o presidente de seu partido pelo apoio a Lula, e é por isso que o PT sinaliza que cederia a cabeça de chapa apenas como gesto de boa vontade para abrir a negociação da vaga senatorial.

Em relação ao Rio de Janeiro, o jogo de Lula é ainda mais oportunista. Ele usa o deputado carioca que saiu do PSOL com sua benção como infiltrado no PSB para enfraquecer Márcio França em São Paulo, Renato Casagrande no Espírito Santo, e por aí vai, mas o petista vai trair Marcelo Freixo na primeira oportunidade. O que ele quer é subir em todos os palanques cariocas, tanto da chapa PSD/PDT, como da candidatura sectária de Freixo, e até na do governador bolsonarista se possível. Enquanto isso, o diretório estadual do PT liderado pelo ex-prefeito de Maricá, Washington Quaquá, e o presidente da ALERJ, André Ceciliano, vão comendo pelas beiradas em busca ou da candidatura própria petista ou de composição em um palanque amplo, o que eles não cogitam é se abraçar no sectarismo radioativo de Marcelo Freixo que não pode pisar na baixada fluminense.

Essa pluralidade complexa de cenários estaduais se propaga Brasil afora, e Kassab não tem a menor pretensão de ser uma linha auxiliar de Lula como o PSB. Ao contrário, o presidente do PSD busca construir uma vocação nacional e ampla para seu partido. Evidente que como um partido de centro-direita, o PSD tende sempre ao “governismo”, e só efetivamente rompeu com Bolsonaro devido à profunda crise do governo federal e sua condução desastrosa da economia e principalmente da pandemia. Porém, o partido possui muitos parlamentares que dependem do orçamento federal e do eleitorado ligado ao conservadorismo liderado pelo governo Bolsonaro atualmente, portanto, um apoio a Lula já no primeiro turno poderia implodir a bancada do PSD que conta com 35 deputados e 11 senadores espalhados pelo Brasil. Inclusive o partido quase ocupou a liderança do governo no Senado na troca deste começo de ano, o que só foi barrado justamente devido ao afastamento tático que o partido adotou de Bolsonaro.

Desse modo, o convite de Kassab para filiar Eduardo Leite e os ex-tucanos descontentes com Doria é uma forma de pressionar Rodrigo Pacheco a aceitar seu papel de presidenciável “neutro” do PSD. Até mesmo para eventualmente aceitar uma composição na chapa petista, o PSD teria que ter um candidato verdadeiramente seu para oferecer para a vaga de vice, e não um político forte e autônomo como Alckmin que usaria o partido apenas como legenda de aluguel a mando de Lula assim como Marcelo Freixo no PSB. Por outro, a filiação do governador gaúcho pode funcionar e Leite seria um candidato forte que atrairia mais parlamentares para aumentar a bancada do partido, ainda que ao custo de um rearranjo na distribuição financeira dos recursos eleitorais do partido.