Round 6, K-pop e o Cinema Coreano

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O seriado Round 6 é mais sucesso da estratégia do país de disseminar sua cultura pelo mundo.

É o Soft Power coreano.

Por outro lado, em Round 6, alguns problemas recentes do país aparecem, principalmente a questão social.

Algumas problemáticas sociais da Coreia ficam em evidência no Round 6.

Um problema antigo, por exemplo, a presença de pessoas idosas no jogo.

A estrutura do sistema previdenciário na Coreia sempre foi um problema grave, deixando os idosos em condições de vulnerabilidade.

Com o crescimento da taxa da população idosa, como mostro no gráfico, foi ficando em evidência a elevada vulnerabilidade dos idosos diante de um sistema previdenciário de baixa cobertura.

Nos últimos anos, várias políticas têm sido implementadas para superar essa problemática.

Round 6 K-pop e o Cinema Coreano 1

Outro problema mostrado é a queda de renda, pobreza e o elevado endividamento.

Entre 1993 e 1998, no governo de Kim Young-Sam, houve um amplo processo de reformas neoliberais.

Entre elas, a reforma trabalhista gerou um elevado nível de precarização das condições de trabalho.

Nesse paper da Jeong-Hee Lee, do Korea Labor Institute, ela mostra as promessas da reforma trabalhista e a realidade do mercado de trabalho.

Elevado nível de autônomos e trabalhadores precarizados, com queda de renda.

Round 6 K-pop e o Cinema Coreano 1
https://cadernosdoceas.ucsal.br/index.php/cadernosdoceas/article/view/590

Nessa coluna, eu e Vitor Araújo Filgueiras mostramos que, após o desastre dos impactos da reforma trabalhista na Coreia, há um processo de retomada dos direitos trabalhistas para maior proteção e maior renda.

O Presidente Moon ganhou eleição com essa pauta.

A origem do cinema ser uma estratégia de Estado:

Um fato histórico é entender como o filme Jurassic Park acendeu a luz para o governo usar o cinema, a música, a cultura sul-coreana como estratégia de Soft Power.

Em 1994, o então presidente da Coreia Kim Young-Sam, recebeu um relatório governamental de 1994, que comparou a receita do filme Jurassic Park com a receita que a Coreia do Sul poderia ganhar com a venda de 1,5 milhão de carros Hyundai no exterior.

A partir disso, por meio de políticas como incentivo ao investimento corporativo e integração vertical na indústria cinematográfica, o governo sul-coreano lançou as bases para promover a cultura do país como variável do desenvolvimento econômico.

O governo colocou no orçamento público subsídios e empréstimos a juros baixos para as indústrias culturais, lançando agências para promover e expandir as exportações de K-pop e criando mais departamentos culturais nas universidades.

O governo se envolve ativamente em ajudar a converter a poderosa cultura pop do país em soft power. Isso envolveu levar celebridades diretamente para eventos diplomáticos tradicionais, convocando-os para gravar mensagens de apoio antes de grandes negociações, por exemplo.

A cultura pop sul-coreana inclui uma vasta gama de ofertas, começando com dramas de televisão, videogames, música pop, filmes, livros e até esportes. Esse fenômeno é conhecido como onda coreana, ou Hallyu.

Como funciona o Soft power: é uma estratégia de relacionar a criação e solidificação de novas mudanças. O soft power consiste em fazer com que outra parte queira o que você deseja, isto é, tornar atrativo e desejável as características de seu país.

O fortalecimento da indústria nacional através do elevado investimento em cultura, envolveu a velha parceria entre mercado e governo, isto é, a relação histórica entre Estado e as grandes empresas nacionais, os chaebols.

Miky Lee, uma herdeira que se tornou magnata da mídia, é a produtora executiva do primeiro filme em língua não inglesa a garantir o prêmio máximo do Oscar em 92 anos de história.

Miky Lee é neta de Byung-chul, fundador do gigante grupo Samsung, o maior chaebol da Coreia do Sul. Os Chaebols são empresas estratégicas no financiamento do cinema, K-pop, seriados, e toda estratégia cultural do país.

Outro ponto relevante é como isso se incorpora ao orçamento governamental. O Ministério da Fazenda reservou 696,1 bilhões de wones (US$ 584,8 milhões) no orçamento de 2021 para promover o soft power do país através da cultura, aumento de 42,7% em relação ao orçamento de 2020.

Além da previsão de investimento, também tem a previsão de arrecadação. A Coreia estima efeito econômico 1,7 trilhão de wones (R$ 7,5 bilhões) devido a ‘Dynamite’, novo hit do BTS. A cultura tem forte associação com a lógica industrial do país.

A cultura, como música e o cinema, é uma forma de estimular a exportação do padrão cultural do país, gerando consumo na economia mundial. Na verdade, a expansão cultural na Coreia é uma forma de internacionalizar e fazer propaganda das grandes marcas coreanas.

O governo coreano trata sua indústria de K-pop da mesma forma que o governo americano trata sua indústria automobilística e bancária, o que significa que essas são indústrias consideradas estratégicas e que precisam ser protegidas.

Isso incluiu fazer coisas como construir enormes auditórios de shows multimilionários, refinar a tecnologia de hologramas e até mesmo ajudar a regular os noeraebangs – bares de karaokê – para proteger os interesses das estrelas do K-pop.

O objetivo desse elevado investimento é muito claro: “Fazer da Coreia do século 21 como se fosse os EUA do século 20, onde os EUA eram considerados tão universalmente legal que qualquer coisa feita nos EUA seria automaticamente comprada.”

Como resultado dessa política, no cinema, o filme “Parasitas” fez a Coreia ser, mais uma vez, notada pelo mundo. Em 2019, a receita total dos filmes coreanos foi de 971 bilhões de wones, aproximadamente US$ 823 milhões em dólares.

Round 6 K-pop e o Cinema Coreano 3

O número de audiência de filmes na Coreia do Sul em 2018 foi superior a 200 milhões, o mesmo percentual por seis anos consecutivos. A participação no mercado cinematográfico coreano atingiu mais de 50% em oito anos e meio e o volume de vendas atingiu 1,18 trilhão de wones.

A defesa de empresas nacionais se faz no cinema também. Os filmes coreanos são produzidos por grandes empresas nacionais e empresas de distribuição, como Lotte Culture Wick, CJ ENM, NEW, Showbox. Nada na Coreia é por acaso, tudo é um projeto de nação.

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