Lula precisa de Bolsonaro e Bolsonaro precisa de Lula

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Por Caetano Portugal – Bolsonaro só respeita os banqueiros e, em certa medida, sua popularidade. Ele só começou a usar máscara e falar de vacina quando os banqueiros escreveram uma cartinha de alerta sobre a pandemia. Passou um tempo, o assunto esfriou e Bolsonaro voltou ao seu figurino sem máscara e aos cenários de aglomeração.

Ele também se preocupa com sua popularidade, na medida em que, mesmo depois de se opor ao auxílio emergencial, resolveu prorrogá-lo, ainda que com um valor bem menor, porque sabe que dele depende o apoio da parcela bolsonarista mais pobre.

Nem o presidente dos EUA Bolsonaro respeita mais, dado seu vínculo umbilical com o trumpismo de Bannon – o que não vale para as Forças Armadas que compõem grande parte do seu governo e o Comando Sul da Marinha ianque.

Dessa perspectiva, todo movimento que atingir Bolsonaro é útil para pelo menos duas coisas: precipitar um pouco provável (mas não impossível) processo de impeachment e derreter a popularidade dele, o que serve para pressioná-lo por mais cuidados com a pandemia e a população.

A preço de hoje, com o governo ainda gozando de relutantes 35% de bom e ótimo e uma base ampla e bem paga no Congresso, é improvável que Lira aceite algum dos mais de cem pedidos de impedimento de Bolsonaro.

A CPI da Pandemia não deve resultar neste fim porque o relatório que ela produzir tende a ser engavetado pelo PGR Augusto Aras.

A via da cassação da chapa Bolsonaro-Mourão no TSE também é pouco auspiciosa, considerando que, mesmo diante dos evidentes crimes eleitorais cometidos por ela em 2018, o tribunal já negou algumas ações com este objetivo.

Sobram a pressão da CPI, o urro das ruas e o sofrimento que a realidade impõe.

Tudo isso, porém, só interessa parcialmente a Lula, a principal força de oposição, na proporção em que os atos oposicionistas possam sangrar Bolsonaro, mas não feri-lo de morte.

Lula venceria Bolsonaro em 2022, garantem as pesquisas, sem precisar sair de casa nem dizer nada. É o seu adversário perfeito. Por isso, para Lula, é melhor que o país e o povo comam o pão que Bolsonaro amassou até o fim de 2022 do que ele exercer sua imensa liderança para tentar abreviar o nosso sofrimento, pagando o preço de um risco eleitoral.

Isso explica por que Lula não assinou nenhum pedido de impeachment nem apoiou as manifestações do #29M.

2022 sem Bolsonaro obrigaria Lula ou outro petista a explicar contradições e apresentar novas propostas, o que seria muito constrangedor, sem ter um Bolsonaro pra apontar o dedo e acusar: pior é aí!

Está muito cedo, entretanto, para traçar cenários eleitorais. E eu realmente duvido que, considerando a vulnerabilidade jurídica de Lula, a Guerra Híbrida que ocupou o Brasil, as inclinações neoprogressistas da América Latina (ARG, COL, PER, CHI, MEX, URU, VEN) querendo se desgarrar novamente dos EUA e os revezes sofridos pelo Império no Oriente Médio e na Ucrânia, o Tio Sam consinta em deixar Lula se eleger tranquilamente sem mobilizar seus ativos interventores no Brasil para neutralizá-lo – judiciário, Forças Armadas (especialmente os setores de espionagem e produção de dossiês comprometedores), finanças, grande mídia e redes sociais.

Talvez por isso o PT mantenha Haddad se aquecendo no banco de candidatura reserva.

Por ora, o que importa é a gente se cuidar, ser solidário com quem mais precisa, engrossar o coro do FORA BOLSONARO, inclusive em novas manifestações de rua e repercutir a CPI do Genocídio.

Eleição é muito importante, mas nossas vidas, agora, valem mais do que nunca.

Por: Caetano Portugal.
Sociólogo, comunicador e diretor da Secretaria do Movimento Negro do PDT-BA.