Os erros nos gabaritos do Enem são muito sérios. Representam uma saraivada de torpedos na cara do imbecil que comanda a Educação.
Trata-se não apenas de frustrar milhares de jovens que disputam a possibilidade de entrarem na universidade pública – que muitas vezes são suas únicas chances de ascensão social – mas de detonar por inteiro a ideia de que temos um governo “duro”, mas eficiente. Ou seja, o sonho da classe média miameira.
MEU BISAVÔ voltou à Itália em 1927, quatro décadas depois de sair de lá na miséria. Encantou-se com a limpeza da Roma comandada pelo Duce, diferente da bela porém decadente capital que deixara para trás. Retornou a Bauru repetindo o mantra “agora os trens chegam na hora!” A ilusão se propagou, apesar de sabermos como tudo terminou.
Aqui não há aparências a lustrar. Não importa se são seis ou sessenta mil testes com problemas. O desdém do titular do MEC ao manejar estatísticas – seriam menos de 1% do total – exibe arrogância e horror a povo (que nem Mussolini exalava).
UMA DAS PEDRAS DE TOQUE do neoliberalismo é sua suposta superioridade técnica diante de outras formas de organização econômica e social. As privatizações das estatais, a primazia das finanças e o combate a tudo o que seja público teve como mote principal, nos anos 1990, o ataque à ineficiência, ao desperdício, ao empreguismo, ao patrimonialismo e à corrupção. Esses predicados unem neoliberais de extrema-direita, de direita e até mesmo setores da esquerda.
Em outras palavras, haveria uma virtude intrínseca no mundo privado que eliminaria os vícios da esfera pública. É o que Paulo Guedes pregou nesta terça (21) em Davos. Para justificar a abertura das compras governamentais a empresas estrangeiras – algo que quebrará milhares de pequenas, médias e grandes companhias que geram empregos aqui -, seu argumento é o de que está realizando um “combate frontal à corrupção”.
ASSIM, BOLSONARO estaria governando com mão de ferro mas, em compensação, as decisões e ações do poder público, com cortes de pessoal e de investimentos, tornariam O Estado mais justo, enxuto e racional.
Em nome da eficiência e fidelidade canina ao nazismo reinante, a pasta da educação teve dois titulares em um ano e o Inep, que cuida de parte da logística do Enem, foi dirigido por quatro burocratas de extrema-direita no mesmo período. Gente grossa e ávida por comer carne crua com as mãos, mas que entrega o serviço. Como Bolsonaro, Guedes e Brilhante Ustra.
A RATEADA no “melhor Enem já realizado”, conforme as palavras do lúmpen do MEC, demole sua cadente credibilidade, Sequer encaminhar a 23a. edição de um processo seletivo para o qual já existe farto conhecimento acumulado – e que deve ser um dos maiores do mundo – o falastrão fascista consegue.
É hora de agregar à denúncia do viés político genocida e ditatorial ao elemento, o carimbo de inepto e charlatão. A ditadura militar tinha gente autoritária e corrupta, mas inegavelmente competente.
O regime dos milicianos produz pequenos Hitleres tapados que primam pelo histrionismo e pelo desperdício de dinheiro público.
É uma forma clara de corrupção.