A bela reportagem de Malu Gaspar sobre a amizade entre Lula e Emílio Odebrecht, publicada na Piauí de janeiro, mostra algo muito além da proximidade do PT com as empreiteiras, ocorrência comum à maior parte dos governos do planeta.
Emerge do texto algo mais grave. O partido não tinha nenhum projeto estratégico que envolvesse a chamada burguesia brasileira. Não havia um programa de desenvolvimento, a não ser iniciativas isoladas como a política de conteúdo nacional, de compras governamentais ou de campeãs nacionais. Eram marcos positivos, porém isolados e desarticulados. Inexistia uma visão estratégica de aumento da capacidade produtiva e alocação de investimentos estratégicos.
O boom das commodities e a elevação dos salários possibilitaram a expansão do mercado interno no segundo mandato de Lula. O que parecia ser uma diretriz de governo logo virou fumaça com o vezo fiscalista do primeiro Dilma e o viés francamente recessivo do segundo..
Aparentemente, o PT via no empresariado apenas o que outros partidos também enxergavam: abastecedores de caixas de campanha. Não é crime, mas denota visão curta.
Apesar de terem condutas políticas distintas, Vargas, Juscelino e Geisel tinham na burguesia interna pontos de apoio fundamentais para seus projetos desenvolvimentistas, com visões de futuro claras.
Não vai aqui moralismo algum em relação ao Partido dos Trabalhadores. O problema evidencia a ausência de projeto nacional que alcança também outros partidos da esquerda brasileira, como PSOL, PSB e Rede. O PDT e o PCdoB esboçam algo nessa direção, mas de forma insuficiente.
É urgente abrir esse debate para a formulação de alternativas para o futuro com mais fôlego do que compor chapas para disputar prefeituras.
Por Gilberto Maringoni