O bobo da corte e a alienação consentida

Milton Temer O bobo da corte e a alienação consentida
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ALIENAÇÃO CONSENTIDA é o mínimo que se pode constatar desse episódio dantesco, na festa oferecida ao “bobo da corte”, Luciano Hang, por seus funcionários após a performance que a CPI lhe permitiu sem nenhuma razão.

AMONTOADOS, como em festa de aniversário infantil, portando balões com cores “patrióticas” que complementavam as feições idiotamente embevecidas, numa aglomeração sem máscaras, esse grupo de trabalhadores nos oferta motivo de reflexão.

NÃO ME INCLUO entre aqueles que mitificam e generalizam certas categorias como se elas fossem monopolizadas por um simbolismo progressista – jovens, mulheres, negros, homossexuais não são obrigatoriamente agentes de transformações estruturais progressistas. Pelo contrário, até…

CITADOS GENERICAMENTE, transformam seus autores em agentes, numa leitura generosa. inconscientes, da ação liberal na faina enganosa da “inclusão” no sistema, como eixo prioritário de luta.

E DIGO POR QUE. Inclusão numa ordem intrinsicamente geradora de desigualdades, preconceitos e ameaças à liberdade sempre que a taxa de lucros corre risco por avanço das lutas sociais, não é a via de abrir caminhos a alguns que sobrevivem ao massacre social para sair da condição de oprimidos e se tornar parceiro dos opressores??

OU SEJA, generalizar na linha da “inclusão” não é forma de estiolar todo o necessário empenho para a desconstrução e superação do regime essencialmente perverso, cada vez mais próxima da naturalização da barbárie? Não é estiolar a perspectiva de que tudo o que existe de repressão social, racial, machista e homofóbica necessita de uma outra sociedade? Uma sociedade onde a fraternidade seja o fator marcante da liberdade e da igualdade?

ESSES TRABALHADORES da empresa do “bobo da corte” nos comprovam, na recepção festiva, a facilidade que tem o regime para gerar essa alienação brutal sobre a própria representação social. Luciano Hang não é um “empreendedor que gera 22 mil postos de trabalho”.

LUCIANO HANG é mais um dos patrões que, no regime capitalista, produz lucro que o enriquece cada vez no assalto às horas de trabalho que seus funcionários lhe dedicam sem receber pagamento correspondente ao que produzem. Às horas em que o assalariado deixa de ser, mesmo que parcialmente, remunerado pelos serviços que presta, para entregar ao patronato uma forma dissimulada de trabalho escravo. De trabalho cujo produto vai diretamente para o bolso do capitalista-patrão.

MAS NUM REGIME em que o desemprego é instrumento de enfraquecimento da consciência de classe, por conta da necessidade da busca do pão de cada dia, é fácil aos meios de comunicação conservadores vender essa imagem de gerador de oportunidades.

EXPLICAR ISSO PERMANENTEMENTE , e não eludir a luta de classes em melhorias fragmentadas, eventuais, que se afirmam como grandes vitórias na leitura liberal do identitarismo “empreendedor”, é a obrigação primeira da esquerda combativa.

E ISSO NÃO PODE se concretizar quando parte mais expressivas dessa esquerda, com seus espaços e garantias sociais protegidos, se empenha na justificativa acomodada, de frentes amplíssimas com segmentos do grande capital, ou a ele subalterno, na eterna leitura defensiva do enfrentamento da conjuntura adversa.

MARCAR SEU ESPAÇO na luta institucional, para uma esquerda digna desse nome, é exatamente tirar partido das campanhas eleitorais não apenas pelo seu viés eleitoreiro, mas principalmente pelo que lhe permite de trabalho pedagógico. Com candidatura própria que marque sua leitura anticapitalista como eixo referencial de tática e estratégia das lutas.

É ISTO QUE espero resultar da Conferência Eleitoral do PSOL no próximo semestre. Sem tergiversações nem dissimulações. E, principalmente, sem mais transformismos que não cessam de rondar os que olham para a política como projeto pessoal, e não como missão estruturalmente transformadora

Luta que Segue!