Descanse em paz, Marco Bruno, nosso eterno MB

(Foto: Stellamigo)
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O mundo, o Brasil e sobretudo o futsal perdeu, neste sábado, um filho ilustre. Ganhou o céu, com mais um anjo para olhar por nós. Pai amoroso, tio querido, marido dedicado, avô coruja, um profissional brilhante, uma enciclopédia da vida ambulante e um ser humano espetacular. Assim foi Marco Bruno, o nosso eterno MB.

Depois de enfrentar um câncer agressivo por um ano e meio, numa batalha que ele lutou como um gigante que sempre foi, o homem precisou descansar. A gente entende, MB. Dói bastante né, mas a gente precisa aceitar que sua hora de partir chegou.

A história do Marco Bruno e a do futsal brasileiro se entrelaçam de forma inseparável. Jogador, dirigente, diretor, treinador. O MB fez de tudo no futsal. Dedicou meio século da sua vida ao esporte mais jogado no Brasil. Quando teve estrutura no país que insiste em abandonar os salonistas à própria sorte, montou, no Vasco, o maior time de futsal de todos os tempos. O ano era 2000 e o time, claro, ganhou a Liga Futsal daquele ano e tudo que você possa imaginar. “Aquele time era sacanagem”, ele me dizia quando eu relembrava dessa época. MB treinou grandes clubes e chegou a levar sua competência e genialidade para o exterior. Trabalhou na Itália, no Japão, e em tudo que é lugar do mundo e do Brasil. Ganhou centenas de títulos ao longo de sua carreira e se despede talvez como o maior salonista que o Brasil já viu.

Revelou grandes jogadores, que saíram do salão pra ganhar o mundo. Atletas que migraram para o “campo” e chegaram ao topo do mundo. São tantos que seria injusto eu citar um, ou outro. Aliás, seu senso de justiça era algo que agigantava seu ser. Podia arbitrar qualquer questão, como um juiz de paz. Era justo, mas que isso não se confunda com ser frouxo. Se preciso, enfrentava quem fosse em nome dessa justiça. Homem sério e íntegro em um país que privilegia o esquema e o puxa-saquismo, não enriqueceu, mas distribuiu riquezas tantas, daquelas que não têm preço e não se podem comprar com papel nem cartão.

O Marco Bruno era aquele cara que ajudava todo mundo, até mesmo quem não merecia. Como tive o privilégio de conviver com o mestre por bons anos – os melhores, aliás -, cansei de ver ele tirar alguém do buraco, dar oportunidade e afeto, e na primeira oportunidade, levava um pernada do oportunista da vez. Também me lembro de questionar ele sobre isso. “Pô, Marco, você tem que parar de dar mão pra gente que depois vai ser ingrata e desleal com você”, eu disse. A resposta ajudou a me formar como homem. Passando a mão no bigodinho dele, ele me olhou, sorriu e disse: “Quem vai ter que dormir com isso é ele, não eu”. Esse foi Marco Bruno.

Sou testemunha ocular do que afirmo, pois eu mesmo, sempre que precisei de ajuda, desde garoto, tinha na mão estendida do MB a certeza de que eu não estava sozinho. Lágrimas tentam me impedir de chegar ao fim desse texto, mas por você, MB, eu vou até o fim, eu desço até o último degrau meu irmão, pois se tem alguém que merece isso nesse mundo cruel e desumano, é você meu querido amigo. No seu sepultamento, a comoção era tremenda né cara. Amigos, famílias, todos ali, meio atônitos, pensando em como vai ser ter que seguir sem a sua presença. Mas você viverá em cada um de nós que tivemos o privilégio de viver e aprender com você, através das memórias, das piadas, dos bordões e da sua generosidade. Também não, claro, faltou resenha na sua despedida. Por onde eu olhava, as rodinhas estilo boleiro se formavam. Obra do destino e do Pai, você fez sua última caminhada às quatro da tarde de um domingo, como se estivesse entrando no Maracanã lotado para um final entre Vasco e Flamengo.

Marco Bruno deixa uma esposa de um casamento de 600 anos, a tia Sylvia, e 4 filhos que Papai do Céu me deu a honra de chamar de irmãos e de irmã. O mais velho, Daniel, um carioca em Brasília, que formou uma família linda e toca sua vida com muito trabalho e suor. O Marquinho, que virou médico, ortopedista, o orgulho da família, que carrega no peito a chama da generosidade que aprendeu com o pai. O Vinícius, professor de educação física e treinador, seguindo os passos do patriarca da família, ganhando títulos por onde passa e que sei, terá uma carreira brilhante pela frente. E a caçula, Viviane, formada em Letras, professora e escritora, com direito a convite para eventos de literatura na Europa. Herdou do pai a paixão pela escola de samba Vila de Isabel, onde hoje é passista, além de mulher linda e com uma inteligência que deixa muito macho confuso.

O Marco Bruno saiu dessa vida para entrar para a história. A história do futsal, da sua família e as nossas histórias, de todos aqueles que tiveram a sorte de cruzar com ele no caminho da vida. Vá com Deus, Marco. Nós ficamos por aqui, mas tenha certeza de uma coisa. Aonde formos, te levaremos no peito, em um lugar especialmente separado dentro do coração de cada um de nós.

Por Thiago Manga, jornalista, filho adotivo, sobrinho, amigo e irmão de Marco Bruno, a quem ele apelidou, entre tantos bordões, de filósofo do apocalipse

Este é texto não reflete, necessariamente, a opinião do Disparada