Por Fernando Mendonça – Poucas coisas foram tão inspiradoras esse ano que a live realizada entre Ciro Gomes e Pedro Cardoso, na “CIRO GAMES, a live do Cirão”. Ciro de passagem por Portugal recebeu o ator Pedro Cardoso para uma conversa sobre Brasil. O ator e comediante, que tem sua carreira por personagens como “Agostinho Carrara” do programa “A Grande Família” na Rede Globo, tem se destacado nas redes pela sua visão política e erudição. Porém é sua forma de colocar as palavras em suas falas e texto, que tem tido um grande aceite popular, viralizando seus conteúdos. Na terça-feira, dia 23/11, foi a vez de uma conversa com o também intelectual Ciro Gomes, que se chama atenção pelo seu grande conhecimento, desperta críticas por uma dificuldade em traduzir suas ideias para o plano popular. Neste ponto, temos o mote deste texto.
Pedro Cardoso diversas vezes demonstrou simpatia pelas ideais de Ciro. E não foi surpreendente, que o ator, um ávido leitor, tenha mergulhado na leitura do best-seller “Projeto Nacional: O Dever da Esperança”, antes da sua entrevista com o presidenciável. É neste livro que Ciro Gomes expõe seu projeto nacional para o Brasil. Tal conjuntura brindou a audiência das redes, com alguém declamando as ideais de Ciro. Fazendo algo que tanto se pede do presidenciável: fazer o Brasil sonhar com o seu PND, o seu Projeto Nacional de Desenvolvimento.
Mesmo com a entrada do publicitário João Santana, a tarefa árdua de emocionar o eleitor, ainda não se concretizou. O próprio Ciro rejeita esse lado, se dizendo “apostar na inteligência do povo”, muitas vezes ignorando a própria cultura do povo que é, em muito, emocional. O que nem sempre é ruim. E o próprio Ciro se beneficia. Não é à toa que sua indignação, muitas vezes transparecidas em palavras e atitudes, criou uma empatia com 12% do eleitorado brasileiro. A sua revolta é o grande embaixador de seu projeto. Porém precisa de mais.
A pré-campanha ainda está “dura de cintura”. Tal fica talvez claro nos recentes spots “Prefiro Ciro”. Se dê início a campanha publicitária tinha apostado na alegria, se contradiz ao fazer mini inserções com um tom musical pesado do rap paulistano. Sem julgamentos de mérito quanto ao estilo musical, todavia não é questão de “mandar a real”, é questão de “fazer sonhar”.
E isso foi o que Pedro Cardoso, numa enorme generosidade, fez durante a mais de 1 hora de Ciro Games. Nos fez sonhar com o tal do PND.
E é estranha essa dificuldade de Ciro. O adolescente Ciro era leitor ávido de Camões. Mas trouxe o linguajar erudito e deixou a poesia. Pelo menos na política, não é raro encontrar um Ciro poeta em seus textos e discursos, com a narrativa da fantasia. É algo que a sensibilidade do Pedro nos brinda.
Existe algo mais jurídico que falar da função social da propriedade? O Pedro nos declamou o valor da coletividade e da inciativa individual. Bases do PND.
Haveria algo mais ideológico que o trabalhismo, corrente ideológica do partido de Ciro? Pedro cantou a importância do trabalho se sobrepondo ao capital, como vetor de igualdade dentro de uma sociedade. De quebra lembrando um ato de Ciro como Ministro da Fazenda, a instituição da participação nos lucros, como uma exteriorização desse vetor.
Suavizou Getúlio, que mesmo com suas questões controversas, foi o pai do Brasil moderno. Referência presidencial de Ciro, junto com Itamar.
Nos narrou nacionalismo nos remetendo ao aproveitamento econômico da Cultura, que negligencia o que é do povo, em nome da exportação de arquétipos culturais importados. Nacionalismo que se encontra, literalmente, no meio do termo PND.
Em versos falou sobre esperança, remetendo a educação e a leitura. Núcleo de ideário do estudioso Ciro, que traz a educação de Sobral e Ceará, como grande feito. Esse próprio Ciro que escreve um livro-projeto que tem por título esperança. Um círculo completo de associações cognitivas que nem o João Santa ainda conseguiu alcançar.
Por fim, dentre tanto falado, fez a leitura ao vivo de um trecho do livro de Ciro, na qual Ciro faz questão de observar que nas conversas com a sociedade, com o povo e seus intelectuais, que se tem um refinamento do seu Projeto, que não é monolítico, ao contrário, flexível. Apontando na prática a humildade intelectual do ex-Ministro, que muitas vezes, por demonstrar conhecimento, pode dar a ideia equivocada de soberba e senhorio da verdade. Em versos, Pedro quebra quaisquer suspeitas da capacidade de diálogo e absorção de Ciro a novos conceitos e ideias.
Pedro Cardoso deu uma aula prática a Ciro Gomes de como fazer sonhar. Nosso povo se emociona com uma vida melhor. Essa vida melhor vem com a boa política que se baseia em projetos. Sonhos e emoções não são antagonistas da racionalidade. Sonhos e emoções podem ser porta-vozes da um projeto de esperança. Conhecendo Ciro, duvidamos que ele não tenha pelo menos despertado para a lição do velho ator e comediante.
Por Fernando Mendonça: Advogado. Fundador do Cirão Carioca, Ciro Gomes Memes e Rede Ciro.
