O PDT deve participar do governo Lula?

O PDT deve participar do governo Lula
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Agora que o segundo turno foi decidido, Lula começa a montagem do governo e parte importante da militância trabalhista se volta para uma polêmica sobre o PDT participar ou não do governo. Muitas vezes, essa polêmica acaba sendo feita de forma despolitizante e acaba não chegando a lugar algum. Por isso, gostaria de propor um debate honesto sobre essa questão. Essa reflexão parte da seguinte constatação: se o diagnóstico que nós defendemos durante todo esse tempo, inclusive no primeiro turno, está correto, não é vantajosa uma adesão automática a um futuro governo Lula.

Qual é o diagnóstico? Nossa economia é profundamente dependente do cenário internacional por conta do modelo econômico em vigor no Brasil. Pior, por conta da pinguela para o abismo do Temer, nosso orçamento é todo engessado para atuar em cenários de estagnação econômica, como é o caso atual. Esse modelo fez nossa economia ser dependente do dólar para controlar a inflação e esse só entra a partir de juros muitos altos, estrangulando a economia, especialmente os investimentos no setor produtivo, que resulta em baixo crescimento econômico e desindustrialização. Isso gera uma bomba relógio de tempos em tempos. Atrair dólar desse jeito estrangula a economia e faz ela seja de crescimento baixo, já que fica muito mais rentável fazer o dinheiro render em títulos com juros altos do que investir na economia real, que gera mais empregos e impacta mais diretamente na vida das pessoas.

Mesmo em ciclos de transferência de renda que estimulem o consumo, isso é mais uma bomba, já que o consumo vem de produtos importados, por conta da soma de fatores destacados acima, o que provoca desequilíbrio (mais dólar saindo do que entrando) e crise. Por conta desses fatores, um futuro governo Lula não tem para correr a não ser enfrentar, no mínimo, o teto de gastos e a política de juros, que desestimula o investimento. Ele vai fazer isso?

Se resolver manter o teto, fica sem dinheiro para investimento, entrega um pacote social de baixo impacto e acaba totalmente amarrado ao mercado, que não vai aceitar “dribles” no teto; se resolver manter a política de juros, a economia não cresce e seguimos estagnados e com alto desemprego e informalidade; se quiser bancar outro ciclo de consumo, a economia quebra por conta do desequilíbrio externo como resultado da desindustrialização. Entenderam o problema? Não tem saída para a crise sem enfrentar o teto e a política de juros altos que alimenta o rentismo. Até agora, não temos ideia do que está se desenhando no futuro governo. A pergunta que fica: qual o sentido em apoiar isso automaticamente?

É muito mais inteligente pressionar para uma mudança (sem loucuras) de rota e ver o que vai se desenhar desse governo. Repito, se lutamos por uma mudança no modelo econômico, é porque sabemos que ele está para explodir. Qual o sentido em entrar de cabeça no governo sabendo disso?

Agora, se o governo der garantias de que pretende enfrentar essas questões, aí o apoio fica tranquilo em um futuro menos turbulento. Só não entendo entrar de cara no governo se ele sinalizar que não pretende mudar nada. Nós ficamos por quase 4 anos avisando que o avião iria cair, agora vamos todos entrar nesse avião?