Negar a história do PCO como parte do trotskismo brasileiro e das esquerdas não ajuda em nada no entendimento de como uma organização que já foi séria (sim, já foi séria), tornou-se um antro reacionário. É um processo que tem claramente gatilhos detonadores. Cito dois.
O PCO nasce apelando para uma identidade operária como subproduto do impulso das greves do ABC e do Novo Sindicalismo. Em 1995, ter uma identidade política rigidamente operária poderia até fazer sentido. Nos últimos anos, porém, muda radicalmente o imaginário das esquerdas. Mulheres, negro/as, indígenas, ambientalistas, LGBTs e afins passam a ter maior peso no imaginário político e representativo das esquerdas. O PCO não se adapta por uma série de motivos, e começa a chamar quase tudo de pequeno-burguês e nos últimos 8 anos surge uma nova palavra: IDENTITARISMO.
O que antes buscava ser uma crítica ao liberalismo e negação do mundo do trabalho, caminha para conservadorismo e depois ganha ares de “crítica” respeitável falando de “identitarismo”. Muitas organizações fizeram caminho parecido, mas não chegaram no nível do PCO (penso, particularmente, numa certa ala da organização Revolução Brasileira e setores do PDT). Esse caminho está aberto e pode ser percorrido por outras organizações (e isso não nega a NECESSÁRIA crítica ao liberalismo nos movimentos de luta contra opressões).
O segundo vetor é o delírio sobre “guerra híbrida”. No lugar de pesquisa qualificada sobre a ação do imperialismo e seus braços, tudo vira ação da “guerra híbrida” e marionetes do onisciente e onipresente George Soros (críticas sérias ao Soros estão na obra de Moniz Bandeira).
E somem as contradições, complexidades, nuances e algo básico: política tem manipulação, mas não se resume a manipulação. Quando o assunto é Junho de 2013, por exemplo, um monte de organizações e lideranças políticas tem a mesma “metodologia” do PCO.
Quando no lugar da pesquisa séria, qualificada e concreta surge uma mera acusação de “guerra híbrida” e ação da CIA (vulgarizando o necessário debate sobre a ação da CIA e outras agências dos EUA), por qual motivo não estender isso para tudo?
O PCO tornou-se reacionário. Esse processo tem vários vetores. Vários desses vetores acontecem hoje com outras organizações e lideranças. Olhar o processo, entender e combater, é bem melhor que negar que essa aberração surgiu sim nas esquerdas e no trotskismo.
Conservadorismo nas organizações marxistas é um problema seríssimo. E isso não se resolve falando de stalinismo. O PCO é uma organização trotskista, Nahuel Moreno é autor de um dos textos mais reacionários da história do marxismo e Trotski não era o autor que vocês pitam, etc.
É possível fazer a crítica séria para organizações marxistas-leninistas que erraram feio nos últimos dias sem cair em espantalhos fáceis. Tenham vergonha na cara, por favor.