MDB quer Simone Tebet vice de Lula, e ele topa

MDB quer Simone Tebet vice de Lula
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A cúpula decisória de verdade do PT, e não os animadores de auditório da militância na internet, busca uma aliança com a centro-direita para compor chapa presidencial petista. O sonho ideal de Lula seria o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, pelo PSD de Gilberto Kassab. Porém, a sombra do MDB do ex-aliado e ex-vice de Dilma, Michel Temer, volta ao páreo pelo cargo de vice de Lula com a senadora Simone Tebet. Essa hipótese tem potencialidades e dificuldades ponderadas por todos os atores envolvidos.

Kassab tem ambições maiores do que apenas indicar o vice-presidente da República. Seu interesse estratégico é no Congresso Nacional, onde reside a chave do cofre do orçamento público. Portanto, o sagaz ex-prefeito de São Paulo e presidente do PSD quer manter independência no primeiro turno lançando um candidato a presidente que esteja em meio de mandato no Senado para gastar todo o fundo eleitoral nas chapas proporcionais livres para apoiarem quem for mais conveniente em cada estado, desde Bolsonaro na região mais ao Sul até Lula no Nordeste, passando inclusive por Ciro Gomes onde ele tem força ou alguma articulação política mais sólida como Belo Horizonte com o prefeito Alexandre Kalil, ainda que seja em palanques duplos com o petista.

Alckmin tem medo de perder a eleição para governador de São Paulo, apesar da folgada liderança nas pesquisas eleitorais, pois conhece muito bem a força da máquina governista estadual que está nas mãos do desafeto João Doria para eleger o vice neotucano Rodrigo Garcia. Portanto, o ex-governador recém desfiliado do PSDB aposta todas as fichas em ser vice de Lula, mas esbarra em diversos obstáculos. Lula e o PT não abrem mão da candidatura do ex-poste Fernando Haddad para o governo estadual paulista, o que dificulta uma composição com o PSB do pré-candidato Márcio França que exige apoio a seu pleito regional para filiar Alckmin e indicá-lo vice na chapa presidencial petista. Além de outros conflitos entre PT e PSB em Pernambuco, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Rio de Janeiro. O hegemonismo petista que sempre busca fortalecer suas máquinas regionais não permite arranjos estaduais com o PSB em troca do apoio nacional. Assim sendo, Paulinho da Força tenta filiar Alckmin no Solidariedade e entregá-lo por um preço muito menor para Lula, tendo em vista que sua única necessidade é salvar-se da cláusula de barreira e manter seu mandato de deputado federal. Além disso, há quem não descarte a filiação de Alckmin no MDB, porém, é pouco provável, pois o partido tem máquinas estaduais muito mais complexas, inclusive em São Paulo, onde é base de apoio ao governador tucano.

O MDB é uma federação de forças estaduais com um objetivo estratégico semelhante ao do PSD, mas muito mais descentralizado, e ao contrário do partido de Kassab que está em ascensão, o partido de Temer e Sarney está em decadência e mais fraco com bancadas em franca diminuição. Assim, o MDB lançou a pré-candidatura de Simone Tebet, senadora em meio de mandato a exemplo da estratégia de Kassab no PSD, mas está muito mais propenso a um acordo com Lula e seus 40% de intenção de votos.

Do lado de Lula, ele topa um vice do MDB numa boa, porém, de fato, isso pode gerar muitas resistências internas por parte de petistas históricos e influentes, ainda que com menos poder decisório do que a cúpula lulo-pragmática. Inclusive Lula chegou a atacar Temer em um evento com sindicalistas recentemente, mas o ataque foi minimizado pelo próprio ex-vice “golpista” que indicou que quer “conversar” com o petista: “Eu compreendo o presidente Lula. Ele não disse para mim, mas para a base dele. Mas, evidentemente, neste momento nós vamos conversar, como conversei no passado”.

Aliás, Temer disse que já foi procurado por emissários de Lula para dialogar, e inclusive mandou um afago para sua inimiga mortal, a ex-presidente Dilma derrubada por ele em 2016. Na contramão dos próprios petistas que querem esconder Dilma da campanha de Lula devido ao desastroso governo dela, Temer disse que o PT deveria sim utilizá-la na campanha devido a uma suposta e inverossímil “presença nacional” da ex-presidente deposta: “Não vou dar palpite no PT, né? Mas acho que não há razão. Ela foi presidente da República, ela tem seus adeptos. Acho que ela pode colaborar com a campanha. Vou dar um palpite aqui com muito cuidado, mas acho um equívoco ignorarem, porque ela tem uma presença. É uma presença nacional que pode ser utilizada, não tenho dúvidas disso”. Essa declaração que beira o ridículo devido ao notório nível de antagonismo entre Dilma e Temer, além da brutal rejeição dela no eleitorado, demonstra apenas o desejo de fornecer argumentos para enfrentar a resistência interna dentro do PT à repetição de uma chapa com o MDB que derrubou a ex-presidente petista.

Na intermediação, ou pelo menos buscando cumprir esse papel, entre as partes está uma figura que já foi uma petista histórica que rompeu com o PT, apoiou a deposição de Dilma e foi para o MDB, mas que continua muito próxima de Lula, que é Marta Suplicy. A influente ex-prefeita de São Paulo convidou a pré-candidata do MDB a presidência, Simone Tebet, para um evento em sua casa sobre a pauta feminina na eleição de 2022. Tebet é de uma ala “menos petista” do MDB, e Marta quer ampliar o diálogo entre a senadora e Lula, bem como, arrefecer possíveis resistências ao seu nome.

Tudo isso ainda são diálogos de bastidores iniciais, mas a impensável repetição de uma chapa PT/MDB torna-se cada vez mais possível novamente. Já Alckmin apostou alto em ser vice de Lula. O PSB cobra muito caro em negociações estaduais complexas que o ex-tucano não tem poder, e o PSD de Kassab está forte demais para ser submetido a um ex-cacique externo oportunista. O Solidariedade é pequeno demais para interessar a Lula. O partido de Temer, Renan, Sarney, etc., tem muitos caciques que teriam que ser convencidos pelo ambicioso ex-governador de São Paulo que gera mais resistência do que apoios no campo lulista, ao contrário da senadora que não representa perigo para nenhum dos cabeças brancas do velho MDB, e é pouco conhecida do eleitorado petista para gerar algum desgaste maior que o da própria sigla que liderou o impeachment de Dilma.

Como diz o clichê, o Brasil não é para amadores, e se tem um partido que não tem amadores é o MDB.

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