André Ceciliano, presidente da ALERJ, pode ser candidato a governador do Rio de Janeiro

André Ceciliano, presidente da ALERJ, pode ser candidato a governador do Rio de Janeiro
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Após o pandemônio da anti-política da Lava-Jato e da pandemia de covid-19, as forças partidárias do Rio de Janeiro começam a planejar a reconstrução política do Estado nos bastidores. Por enquanto somente duas candidaturas ao governo estão no horizonte: a do governador Claudio Castro, que chegou ao cargo como vice de Wilson Witzel, e seria o candidato natural do bolsonarismo; e a de Marcelo Freixo que busca ser o candidato do consenso anti-bolsonarista unindo Ciro Gomes e Lula em um palanque duplo da esquerda à centro-direita liderada pelo prefeito da capital Eduardo Paes e os Maia, o vereador e ex-prefeito César e o filho e deputado Rodrigo, que são muito influentes nas articulações das máquinas públicas e privadas do Rio. Para isso, Freixo deve sair do sectário PSOL e é disputado por PDT, PT e PSB.

Nesse arranjo complexo da Frente Ampla carioca, Alessandro Molon, deputado federal e presidente estadual do PSB, gostaria de ser candidato a senador para a vaga de Romário que possivelmente deve vir como candidato a deputado federal diante da desarticulação da aliança partidária que o elegeu para o Senado Federal. No entanto, o PSB dificilmente conseguiria a vaga de governador e de senador devido o tamanho pequeno do partido no Rio, mas caso Freixo escolha outro partido, Molon pode emplacar a vaga senatorial na chapa. Já o popular ex-prefeito de Niterói que elegeu seu sucessor e também é um forte pré-candidato a governador, Rodrigo Neves do PDT, viria como candidato a deputado federal dos trabalhistas. A vice de Freixo deve ficar para algum aliado de Eduardo Paes. Um dos postulantes que desejaria essa posição é Felipe Santa Cruz, presidente nacional da OAB.

Porém, no momento, o que circula com força nos corredores da Assembleia Legislativa (ALERJ) é a possibilidade de André Ceciliano do PT, presidente do legislativo estadual carioca, assumir o governo diante de eventual renúncia do atual governador Cláudio Castro do PSC, que seria nomeado para o Tribunal de Contas do Rio (TCE-RJ), para concorrer à eleição ao Palácio Guanabara já sentado na cadeira.

Apesar de filiado ao PT, Ceciliano seria um governador do parlamento carioca sem nenhum tipo de compromisso com os setores sectários da esquerda, inclusive por sempre ter sido um dos principais articuladores das bases governistas do MDB. O deputado estadual é conhecido por ser extremamente habilidoso em obter consensos nas votações da ALERJ, inclusive para se eleger presidente. Do PSOL de Freixo aos bolsonaristas PSC e PSL, passando pelo MDB de Picciani, DEM de Maia e PDT de Martha Rocha, Ceciliano seria um nome fortíssimo como candidato a governador já sentado na cadeira negociando o orçamento estadual, ainda mais com impossibilidade de concorrer a reeleição. Seria um arranjo bastante satisfatório para todas as forças partidárias do Estado, da esquerda que quer uma alternativa a um candidato apoiado diretamente por Bolsonaro, e para a direita combalida pelo lavajatismo e precisa da recuperação do protagonismo do legislativo e do executivo na hegemonia política estadual após a devastação da anti-política lavajatista.

Esse acordo de renúncia e nomeação para o TCE serviria para proteger o vice de Witzel que pode ser pego no rescaldo do lavajatismo e da corrupção obscena da gestão do ex-governador durante a pandemia. Castro sabe que tem pouquíssimas chances de se eleger governador e ficaria sem mandato à mercê do Ministério Público armado de delações premiadas, e para ser candidato ao legislativo teria que renunciar em abril, 6 meses antes da eleição, o que também o deixaria exposto a magistrados de primeira instância como o violentíssimo juiz Marcelo Bretas da Lava-Jato carioca. Portanto, a nomeação para o TCE seria uma saída satisfatória para um político de pouca que expressão que viu a cadeira de chefe do executivo estadual cair em seu colo após o terremoto judicial que colocou na cadeia 5 governadores e afastou mais um que provavelmente também terminará atrás das grades.

Nesse arranjo ‘parlamentarista’, Bolsonaro perderia seu palanque regional, o que não é um prejuízo tão grande para o presidente porque sua lógica de campanha é distinta por ter sido eleito na onda da anti-política com forte aparato populista na internet e nas corporações policiais e militares. Ainda assim, a candidatura bolsonarista poderia recair sobre o prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis do MDB, que inaugurou uma escola “cívico-militar” com o nome do pai de Bolsonaro. Reis é um político forte na baixada fluminense com um irmão deputado federal (Gutemberg Reis) e outro estadual (Rosenverg Reis) e poderia dar capilaridade nas regiões periféricas para a candidatura do presidente.

A eventual candidatura de Ceciliano como governador em exercício alteraria o tabuleiro político muito mais do ponto de vista da esquerda e do centro que hoje tende a ir com Marcelo Freixo. Ainda é cedo e muitos lances podem virar a conjuntura de cabeça para baixo. Uma coisa é certa, candidaturas sectárias sem amplitude que apostem na anti-política tem poucas chances de prosperar. O debate não é mais sobre “Frente Ampla vrs. Radicalização”, mas sobre quem consegue organizar e liderar as Frente Amplas.