Glauber Braga Presidente contra o pragmatismo de Freixo e Boulos no PSOL

Glauber Braga Presidente contra o pragmatismo de Freixo e Boulos no PSOL
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O histórico comunista Milton Temer, exilado nos anos 1970, militante do PT a partir dos anos 1980, deputado federal pelo partido nos anos 1990, e em seguida dissidente contra a política econômica de direita do governo Lula, para por fim ajudar a fundar o PSOL, deu um pito em Marcelo Freixo após o encontro deste com Lula para discutir 2022. Tempos atrás Milton Temer já havia questionado também o pragmatismo de Guilherme Boulos que buscou abrir diálogo com os evangélicos da base do governo Bolsonaro em encontro com o presidente do Republicanos, partido ligado à Igreja Universal. O veterano militante esquerdista anuncia que tem um nome radical alternativo aos conciliadores Boulos e Freixo para liderar o PSOL, mas não diz qual é. Eu digo. É Glauber Braga.

Glauber Braga é um combativo e sectário deputado federal do PSOL do Rio de Janeiro que veio do PSB. Seu reduto eleitoral é Nova Friburgo, onde sua mãe foi prefeita e mantém forte (e pragmática) liderança local. Ele está cansado de ser deputado federal, pois no Congresso Nacional seu campo de atuação é muito pequeno e se resume a chamar os caciques dos grandes partidos de gângsteres ou atacar qualquer acordo que a centro-esquerda faça para obter compromissos e espaços legislativos enquanto oposição. Além disso, o PSOL cresceu demais no Rio de Janeiro, e os votos de Glauber diminuíram bastante. De cerca de 80 mil votos em 2014, Glauber caiu para 40 mil, a metade, em 2018, enquanto os outros deputados do PSOL fazem 150 mil ou 300 mil votos. A tendência é que o deputado não se reelegeria em 2022. Portanto, como candidato a presidente ele pode nacionalizar seu nome; diante do fato de que Nova Friburgo não seria mais capaz de elegê-lo para o Congresso; e manter certa influência política, que hoje se resume às redes sociais.

Como se vê, a “Operação Glauber Braga Presidente” não tem nada de esquerdismo. É puro pragmatismo do deputado e de seus aliados internos sem poder, como Milton Temer, e seus satélites externos como o PCB de Jones Manoel, que está apavorado com a perspectiva de extinção material total da sigla nanica. O PCB, assim como todas essas seitas sem representação social vão ter que se adequar como correntes do PSOL, um verdadeiro partido-frente, que congregará todo o esquerdismo que irá sobrar no sistema partidário brasileiro.

No entanto, no PSOL, assim como em todos os partidos brasileiros, quem manda são os senhores feudais estaduais, aqueles que detém máquinas reais de poder, como mandatos, aparelhos sindicais, estudantis, etc. Portanto, Boulos e Freixo; que têm aparelhos e querem disputar cada vez mais o poder real acima deles, e não abaixo; buscam alianças amplas para se consolidar. Boulos quer ser candidato a governador de São Paulo com apoio de Lula. Freixo é ainda mais ousado, quer ser candidato a governador do Rio de Janeiro com apoio de Lula, Ciro Gomes, Eduardo Paes, César e Rodrigo Maia.

Boulos quer ficar onde está para se manter independente do chefão petista em acordo com o dono do PSOL em São Paulo, Ivan Valente, mas não pode deixar o partido ter candidato a presidente para barganhar que o PT não tenha candidato a governador. Já o acordo que Freixo quer é mais fluído, um palanque duplo para Lula e Ciro até poderia virar um palanque triplo com um candidato a presidente do PSOL. Mas ele sabe que vai ser impossível impor ao partido uma aliança não apenas com PT e PDT como com a centro-direita, portanto, deve se filiar em outro partido e levar a maior parte de sua base de direitos humanos junto, deixando o PSOL para as seitas comunistas e trotskistas.

Pois bem. O PSOL está em uma sinuca de bico muito complexa, que ao contrário do discurso hipócrita dos esquerdistas, não é entre “radicalismo” e “conciliação”. O dilema do PSOL é como arranjar todos esses interesses muito concretos e pragmáticos. Boulos e seu movimento em São Paulo aliado a Ivan Valente, Freixo e sua Frente Ampla Carioca, e o destino de Glauber Braga como líder das seitas esquerdistas ceifadas pela cláusula de barreira tendo cada vez menos votos para garantir seu gabinete na Câmara dos Deputados. Essas são as bolas da vez a serem todas acomodadas. O resto é espuma.