Agora chegou a vez de Marina Silva e a Rede serem o alvo de submissão à hegemonia de Lula. Lauro Jardim informa n’O Globo que a direção do PT busca reaproximar Marina do petista: “O Lula se reaproximou até do Alckmin. Não é possível que não possa fazer o mesmo com a Marina.” – Disse um dirigente do partido próximo ao ex-presidente.
Marina Silva filiou-se ao PT nos anos 1980 quando era sindicalista e ambientalista ligada a Chico Mendes. Ela foi ministra do Meio Ambiente de Lula e rompeu com o governo do PT em 2008, para disputar a Presidência da República pelo Partido Verde em 2010 contra Dilma. Posteriormente saiu do PV e fundou a Rede.
Em 2014, Marina seria vice de Eduardo Campos pelo PSB, mas com a morte do ex-governador de Pernambuco em acidente aéreo, ela herdou a cabeça da chapa acumulou grandes chances de vitória segundo as pesquisas eleitorais. Por causa disso, Marina sofreu uma violenta campanha de desconstrução por parte da campanha petista em aliança tácita com a campanha do PSDB de Aécio Neves, para evitar a chegada ao segundo turno da candidata favorita. O marqueteiro do PT à época era o genial João Santana que conseguiu eleger uma pessoa que até hoje não aprendeu a falar em público para sucessão de Lula, e na campanha da reeleição de Dilma, o baiano teve a proeza de emplacar a narrativa de “mudança” com slogan “Muda Mais” para um partido que já estava no poder há 12 anos e não promoveu sequer uma reforma institucional no Brasil.
Por isso, Marina alimenta um profundo ressentimento tanto contra Lula e o PT como contra João Santana. Ocorre que para qualquer um que é do ramo da política, beira o ridículo culpar um marqueteiro por qualquer tipo de golpe abaixo da cintura numa campanha eleitoral. A comunicação política é responsabilidade do candidato que aprova ou rejeita uma ideia ou estratégia de marketing, por mais genial que seja.
Tanto isso é verdade, que apesar de ter criticado o PDT pela contratação do experimentado marqueteiro baiano que tirou a ex-presidenciável do segundo turno da eleição de 2014, Marina Silva continua apoiando a pré-candidatura de Ciro Gomes.
Atualmente a Rede está dividida entre a ala de Marina e Heloísa Helena que querem apoiar Ciro, e a ala do senador Randolfe Rodrigues, que quer o apoio de Lula para ser candidato a governador do Amapá. No entanto, Randolfe está tão submetido a Lula que topa não ser candidato a governador em troca de uma vaguinha na coordenação da campanha presidencial do petista.
Porém, assim como as razões materiais e ideológicas para a submissão do PSOL e do PCdoB, que expliquei nos artigos “Submissão a Lula matou o PCdoB, e o próximo é o PSOL” e “Neolulismo, a doença infantil do PSOL“, a Rede sofre risco iminente de extinção material pela cláusula de barreira.
Diante disso, o PT atua para atrair a Rede e se reaproximar de Marina para isolar ainda mais Ciro Gomes como alternativa assim como fez com a própria ex-ministra em 2010 e 2014.
Para tanto, Lula tenta convencer Marina de que a violência da comunicação na eleição de 2014 foi tudo culpa do João Santana “malvadão” e que pode ajudar a Rede na articulação de uma federação com o PSOL ou até mesmo com PSB e PCdoB para salvar o partido da cláusula de barreira. Mas Marina não é tão ingênua assim. Ela sabe que o PT não é exatamente famoso por cumprir acordos e muito menos de ajudar aliados de esquerda. O PT somente articula algo para um aliado se o benefício para os petistas for maior do que do “companheiro”. Essa é a dura lição que Flávio Dino está aprendendo só agora no Maranhão, onde o PT prefere apoiar o candidato a governador do PDT ou até mesmo a volta de Roseana Sarney, do que o seu candidato a sucessor.
Marina sabe que Lula não está nem aí para ela ou para a Rede, a única vantagem dele nisso é isolar ainda mais Ciro Gomes. Porém, a necessidade de manter o partido existindo materialmente pode impor à Marina a humilhação de voltar ao colo de seus algozes de 2014, tendo em vista que o PT tem mais a oferecer do que o PDT em termos de estrutura nos governos estaduais no nordeste, bem como articulação com PSOL, PSB e PCdoB, para eleger chapas de deputados federais, que é o que conta para fins da cláusula de barreira.