Governo de São Paulo: o tabuleiro da direita e suas estratégias

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A eleição paulista tomou os jornais nas últimas semanas. Em 2022, o Palácio dos Bandeirantes parece estar em disputa real pela primeira vez em décadas de hegemonia tucana no Governo de São Paulo. O outro partido do Higienópolis (o dos Trabalhadores), está considerando a batalha bandeirante como sua Waterloo. Apesar de ser o mais paulista dos partidos, o PT jamais governou o Estado de São Paulo.

Mas não é só a velharia tucano-petista que está em pólvora. Bolsonaro e o seu campo também parecem dividir-se em diversas correntes para a disputa que se avizinha. Diversas correntes conservadoras estão se acotovelando em busca do apoio do Planalto.

Abaixo estão os principais movimentos do campo liberal-conservador da disputa, movimentado recentemente por Bolsonaro, Dória e que reflete em diversas figuras como Abraham Weintraub, Tarcísio Freitas, Ricardo Salles, Rodrigo Garcia e até mesmo o pouco expressivo Arthur do Val.

Weintraub/Tarcísio/Salles: Em busca do eleitorado cativo Bolsonarista (que oscila entre 18-25% do eleitorado paulista), o fratricídio conservador parece estar só começando.

Weintraub voltou ao Brasil com o propósito de disputar a eleição paulista pelo PTB de Roberto Jefferson, que pretende ser mais bolsonarista que o próprio Bolsonaro. Para isso, tem ao seu lado o núcleo olavista, tão preterido frente ao apetite do centrão. O ex-ministro da educação, cuja história lembrará mais pelos erros ortográficos do que por qualquer atitude, já se disse “abandonado por Bolsonaro” e “trocado pelo centrão”. Uma narrativa que toma força dentro do núcleo ideológico, principalmente após a briga Allan dos Santos x Fábio Faria. Possui o apoio de expoentes como Olavo de Carvalho, Ernesto Araújo e demais membros do hospício ideológico bolsonarista. Weintraub joga com a pouca capilaridade de Tarcísio em São Paulo e tentará ser o fenômeno da antipolítica a personificar o fenômeno de Bolsonaro.

Ricardo Salles: com articulações mais próximas dos tubarões da Faria Lima, Salles pretende ser o denominador comum da direita de São Paulo. Transita bem entre o Partido Novo, o Bolsonarismo, o agrobusiness e tem boa vontade de alguns tucanos, saudosos do tempo em que ele era Secretário de governo do futuro ex-vice-presidente petista, Geraldo Alckmin. Seu plano é manter-se posicionado para (i) assumir a candidatura, após demonstrada a fragilidade de Tarcísio e (ii), na pior das hipóteses, morder uma candidatura ao Senado, como contrapartida de sua desistência ao executivo. Em caso de derrota em ambas as posições, tentará hegemonizar a representação uma direita faria limer ligada à Guedes, com uma grande candidatura a deputado pelo Novo ou qualquer outro partido de aluguel.

Tarcísio: jogado aos leões por Bolsonaro, o obscuro tecnocrata acabou sendo empurrado à disputa por Bolsonaro. Sem parecer muito à vontade, buscará inaugurar até poste de luz em São Paulo neste ano, fugindo da acusação de que nunca dera a devida atenção aos paulistas. Sua imagem tecnocrática é vista pelos bolsonaristas como uma aposta no antigo malufismo de São Paulo. O problema é que Tarcísio parece realmente não conhecer bulhufas da terra de José de Anchieta. É provavelmente o menos paulista dos ministros e o único que deverá disputar eleição majoritária. Contará com o apoio de Bolsonaro, mesmo sabendo que seu chefe não é muito habituado a ser fiador de candidaturas vitoriosas.

Rodrigo Garcia: Preposto de uma das maiores máquinas eleitorais da história do Brasil (o tucanato paulista), o vice-governador está convicto que sua relação com prefeitos e seu poderio administrativo o colocarão no segundo turno, contra uma candidatura petista cuja rejeição garantirá mais 4 anos de governo aos tucanos. Falta combinar com os paulistas. O mesmo interior que despreza o PT, hoje coloca Dória com rejeição superior a de Lula. Nunca um governador tucano foi tão mal avaliado nas regiões cruciais (interior, vale do Paraíba e Noroeste) como João Dória. Rodrigo já é governador em exercício desde pelo menos o meio do ano passado. Inaugurou todos os tipos de obra e saiu visitando (e filiando) dezenas e dezenas de prefeituras e prefeitos. Mas o carisma ainda é um desafio e a rejeição ao atual governador não ajuda. Há quem aposte que o segundo turno paulista pela primeira vez não terá um tucano. Não é o caso deste espaço.

Arthur do Val: Representante do MBL e da frente lavajatista, Arthur busca associar-se a Moro, vendendo-se como uma espécie de “terceira via paulista”. Seu objetivo é eleger o amplo leque de candidatos do MBL e aglutinar o polo liberal para além do eixo Guedes-Faria Lima. O apoio do ex-juiz da Lava Jato não é suficiente para elegê-lo, mas será importante no projeto final do MBL, que busca consolidar-se no parlamento paulista para avançar nacionalmente.

As peças estão na mesa e os jogadores parecem movimentar-se com rapidez. O ano de 2022 marcará o retorno da política frente ao movimento contrário, responsável pela sociedade do absurdo que estamos vivendo. Também é o primeiro ano em que viveremos as reformas eleitorais – como é o caso das Federações. O pacto de 1988 terá sua prova de fogo. São Paulo, que conduz, não ficará atrás. O PT levará a eleição paulista como questão de honra, assim como os tucanos, que praticamente deixarão de existir em caso de derrota. Bolsonaro precisa manter minimamente seu eleitorado no maior estado do país. De todos os interesses, o menor, sem sombra de dúvidas, é o do povo paulista. Que, ao contrário do lema de sua bandeira, é conduzido – e não conduz.