Foi golpe? O PT e a instrumentalização de lutas legítimas

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Por Rennan Ziemer – É muito conhecida a fala de Leonel Brizola, que nos deixou há quase vinte anos, de que o PT cacareja para a esquerda e bota ovos para a direita. Nada mais atual. Brizola sempre foi tratado como inimigo pelo PT. Na última eleição presidencial que acompanhou, o PDT apoiou Ciro Gomes em 2002.

O PT é um partido que vive de uma imagem que em muitos casos não condiz com a realidade, tudo depende da conveniência política da cúpula partidária. Isso é ainda mais acentuado nas disputas presidenciais em nível nacional, nas quais a militância que preza pela coerência tem menor influência decisória.

O PT sempre viveu de criar inimigos muito piores do que eram na realidade. Essa estratégia é eficaz em mobilizar as bases como massa de manobra. Inclusive há intelectuais que se prestam a legitimar essa forma de atuação. Não são desonestos, apenas ganham grande destaque por defenderem ideias convenientes ao partido.

A política econômica do Lula foi mera continuação da implementada por Fernando Henrique Cardoso. A tentativa de rotular o PSDB de fascista foi recorrente. A banalização de uma luta de grande importância por tantos anos pagou seu preço quando um fascista chegou à disputa presidencial. FHC pode não ter feito um governo de esquerda, era da direita neoliberal, mas certamente era um democrata.

A luta pela moralidade política que foi encabeçada pelo PT por muitos anos também não passou de retórica. Em poucos anos de governo o escândalo do mensalão bateu às portas. Mera instrumentalização eleitoral da pauta da moralidade e anticorrupção.

Durante o episódio do impeachment da Dilma, muita gente foi rotulada de golpista, sem compromisso com a democracia. O PT usou todas as forças de mobilização social para tentar barrar o afastamento da presidente Dilma, que se deu por motivos juridicamente muito frágeis. Na eleição seguinte os golpistas de ontem se tornaram novos amigos de infância como aliados eleitorais.

Quando Lula foi preso por decisão de um juiz incompetente e parcial, o partido também usou seu poder de mobilização pelo Lula Livre, que persistiu por mais alguns meses após a soltura, enquanto não havia um novo discurso oficial para ser reproduzido.

A disputa pela versão dos fatos é necessária para manter a militância aglutinada ao redor de um líder. Em alguns casos o discurso condiz com o objetivo, como a tentativa de evitar o impeachment e a liberdade de um preso político. Em outros, o discurso deve ser repetido, mas apenas no nível da aparência.

A grande força de mobilização social apenas é usada quando convém. Exemplo claro foi a chamada pelo impeachment de Bolsonaro, especialmente a partir de 2020. Após algumas carreatas grandes no meio da pandemia, assim que retornaram as passeatas, ficou muito clara a falta de interesse na pauta. As manifestações eram pouco divulgadas, faltou suporte dos sindicatos, que são os maiores mobilizadores de multidões. Não houve manifestações públicas do Lula e sua presença nos atos. Qualquer pessoa mais atenta percebe sem dificuldade que era do interesse do PT manter Bolsonaro enfraquecido até as eleições.

O mesmo se dá com Sérgio Moro. Na recente polêmica sobre a remuneração de Moro na Alvares & Marsal após investigação do Tribunal de Contas da União, passou a circular a notícia de que estariam sendo colhidas assinaturas para uma CPI da Lava Jato. Poucos dias depois a informação era de que o PT não iria mais apoiar a instalação da comissão. Para o PT é mais proveitoso manter a sobrevida do Moro tumultuando o caminho da terceira via, que facilita a chegada de Bolsonaro enfraquecido ao segundo turno.

O PT não é inimigo, mas infelizmente tem grande cota de responsabilidade pelo desastre que enfrentamos. Sempre bom lembrar a fala do Nildo Ouriques sobre o mesmo discurso petista de décadas de que nunca é a hora de criticar o PT. A verdade é que o PT instrumentaliza lutas legítimas conforme a conveniência do seu projeto de poder. Sempre iludindo a própria militância, que aceita passivamente ser manobrada em manifestações encenadas pela cúpula partidária, ou é silenciada quando precisa aceitar um golpista e ex-fascista para posto de vice-presidente. É a história se repetindo como tragédia para tudo continuar como está.

Eu já havia começado a escrever esse texto antes da notícia veiculada na CNN de que Cristiano Zanin, advogado do Lula, havia se encontrado com Michel Temer para trata da reaproximação com o PT. Essa informação levou a expressão “FOI GOLPE” ao terceiro lugar entre os assuntos mais comentados no Twitter Brasil. Cada vez mais atual a fala do Haddad de que golpe é uma palavra muito dura. Mais uma vez a militância percebe que foi enganada.

Não podemos nos resignar com esta situação. Nosso objetivo é derrotar Bolsonaro, mas também defendendo um projeto alternativo ao neoliberalismo que a esquerda brasileira que chegou ao poder resolveu adotar.

Por Rennan Gustavo Ziemer da Costa, Presidente do PDT Diversidade Paraná