Deploro Mendonça no STF. Mas faz parte do jogo democrático

Deploro Mendonça no STF. Mas faz parte do jogo democrático
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Tenho visto e lido muita contrariedade com o fato de Bolsonaro ter indicado – e aprovado – André Mendonça para uma vaga no STF. Vamos pesar as coisas.

É prerrogativa de qualquer presidente da República nomear quem quiser para aquela Corte e se esforçar para aprova-lo no Senado, conforme dispõe o artigo 101 da Constituição Federal. Sarney indicou 5, Collor 4, Itamar 1, FHC 3, Lula 8, Dilma 5, Temer 1 e Bolsonaro 2. Em períodos democráticos, a agremiação com o maior número de indicações ao STF é o PT, num total de 13. Desses restam 7, o que dá ao partido – em tese –maioria na Corte (nos EUA, indicados por Democratas ou Republicanos raramente votam contra interesses de quem os colocou lá). Aliás, estamos na terceira gestão – em tese – petista na presidência do Supremo.

A indicação mais grave ao STF não é a de Mendonça. Para mim são as de Fux – acordo do PT com Sérgio Cabral -, de Carmen Lucia – que lá chegou por influência de Aécio Neves – e de Dias Tóffoli. No primeiro mandato de Lula, as indicações foram terceirizadas para Marcio Thomaz Bastos, apoiador do golpe de 1964 e homem claramente de direita.

A indicação de Tóffoli é insuperável. Advogado medíocre, com carreira idem, sem obra ou predicados acadêmicos, chegou graças ao poder do Executivo. Em seu livro Brasil à parte, Perry Anderson o classifica como “Ex-office boy jurídico do PT e provavelmente a figura mais desprezível de todo o atual cenário político”.

Mendonça é evangélico sim. Outros são católicos espíritas etc. A única limitação que a Constituição coloca para uma indicação é que o escolhido seja brasileiro nato. O agraciado por Bolsonaro é um atentado ao Estado laico, dizem. Pode ser, mas não é maior que o fato de a sala principal do STF ostentar um crucifixo em uma das paredes.

Depois de Dias Tóffoli, tudo é possível. Mendonça parece ter um caráter melhor que “meu menino no STF”. Não há sinais de que trairá seu padrinho.

Deploro a indicação de André Mendonça. Mas ela faz parte do jogo democrático como ele é.

  1. Bem direto: eu gostei do artigo!

    Pessoalmente, eu acho Gilmar mais malėvolo. Tófoli não é malėvolo, é limitado tecnicamente; e manifesta gratidão incondicional a Lula e ao PT, o que não devia fazer na função de ministro do STF, mas isso ė humano.

  2. Ops, em tempo: faço um acréscimo ao meu comentário anterior. O Lewiandoviski é completamente subserviente ao PT.

  3. Antes das “prerrogativas” formais do presidente da República temos que considerar a legitimidade de seu mandato. O fato de Bolsonaro não ter sofrido impeachment (assim como o fato de estar fora da cadeia onde deveria estar) não confere um átomo sequer de legitimidade às suas decisões. Essa fé incondicional na “democracia” impulsiona o fetichismo liberal na sociedade, desarmando ideologicamente os trabalhadores e o povo que deveriam ter consciência de que não existe democracia em uma sociedade dividida em classes antagônicas. A “democracia” brasileira é sistematicamente modulada pelos interesses de classe da plutocracia financeira e seus aliados íntimos como os agronegocistas e empresários da grande mídia. Bolsonaro foi eleito sob os auspícios desses interesses. Praticou seguidos crimes, de responsabilidade e comuns, acobertados por esses interesses, e esquivou-se do impeachment porque a plutocracia financeira assim o quis. Portanto, nada há que confira legitimidade às decisões de Bolsonaro com argumentos de que fazem parte das regras do “jogo democrático”. Esse ” jogo”, de fato, existe, mas jamais teve e terá regras que se respeite. Trata-se de jogo sujo, cenário da luta de classe travada no âmbito das instituições burguesas. Nele, os representantes dos trabalhadores jogam no estádio do adversário, protegido por grosso aparato de segurança, sem direito à presença de sua torcida, com juízes que torcem para o time adversário. A única coisa que a torcida do time dos trabalhadores pode fazer para que seu time não seja roubado dentro de campo é ocupar maciçamente as vizinhanças do estádio onde se realiza o jogo, de modo a intimidar o juiz e os bandeirinhas, impedindo-os de tomar decisões que favoreçam o time da classe dominante. Nenhuma decisão tomada por Bolsonaro foi legítima, pois Bolsonaro foi eleito, governou e governa o país violando as regras formais mais elementares da “democracia” burguesa.

  4. Darcy, excelente reflexão. Essa metáfora do time jogando no campo do adversário é perfeita. É assim mesmo aqui no Brasil e o povo precisa acordar e tomar as decisões necessárias.

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