Texto inédito de Getúlio Vargas mostra que seguimos reféns das ‘democracias ditatoriais’

Texto inedito de Getulio Vargas mostra que seguimos refens das democracias ditatoriais
Botão Siga o Disparada no Google News

Esse novo texto encontrado de Getúlio Vargas parece uma nova carta-testamento. Você lê e vê que o Brasil não mudou nada. Há quarenta anos afundamos nessa “democracia” ditatorial do sistema financeiro operada pelas corporações de imprensa. Getúlio só houve um, infelizmente.

“Não sou contrário à democracia. Julgo apenas que essa democracia que aí está é profundamente reacionária e anárquica. Está fora de seu tempo. É a velha democracia liberal que em matéria de economia política ainda [reza] pela cartilha de A. Smith. Para eles democracia é a liberdade individual para os poderosos do dia fazerem o que entendem, oprimindo aos pobres e humildes [ou], pelo menos, passarem indiferentes ante a penúria e o sofrimento alheios. Para eles o Estado é um Estado polícia que não deve intervir, senão para garantir os privilégios dos poderosos do dia. Entre esses os mais poderosos são os proprietários dos grandes jornais, opulentos gozadores da vida que impõem seu ponto de vista, [coagindo] a liberdade de pensamento de seus empregados. Esses potentados gozam de todos os privilégios, inclusive o de não pagar imposto de renda. Esses são os que envenenam e adulteram a opinião dos [que] leem. Eles defendem esse falso conceito de democracia porque esse é o conceito das grandes empresas que lhes pagam os anúncios que os mantêm, afora que os enriquecem. […] Admitamos, porém, que eu enfrentasse todas essas dificuldades e as vencesse, que fosse eleito e empossado. Na posse do governo eu não poderia decepcionar o povo que me elegeu. Para combater os males reinantes teria de realizar grandes reformas de ordem social, política e econômica. Isso levantaria contra mim a [onda] dos interesses criados. E já estou velho para fazer outra revolução. Os que desejam minha candidatura são em geral e muito particularmente os pobres, os humildes, os esquecidos, os perseguidos, os injustiçados, os que gemem sob o peso insuportável de uma vida caríssima e impostos crescentes em benefício dos tubarões, dos organizadores de monopólios e dos altos dignatários desta democracia. Não na querem os que estão na lauta mesa do banquete, sugando as energias do Brasil e receiam que essa sopa vá acabar. […] Meu governo foi um governo revolucionário, de renovação social, de reerguimento econômico, de fomento da produção, de proteção ao trabalho e à indústria nacional. Atravessamos agora um período de paralisação, se não de retrocesso. Uma onda de reacionarismo contra todas as forças credoras da nacionalidade. Antes de 1930 vivíamos numa democracia de fachada, inteiramente artificial, porque não existia a liberdade do voto. Tudo se combinava e realizava através de combinações ou de conchavos feitos pelos maiorais da política, [à] revelia do povo, sem garantia do povo. Hoje essa garantia está assegurada por leis promulgadas no meu governo —voto secreto, voto feminino, Justiça Eleitoral. […] Na verdadeira democracia o homem de governo fala diretamente com o povo. Nas democracias deformadas, como essa que temos no Brasil, os políticos falam uns com os outros e esquecem o povo.”

Getúlio Vargas