“Talho”: álbum é presente para os amantes do samba

Talho
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Boa reflexão sobre um Brasil dividido, crônicas sobre o cotidiano, romance e deboche: “Talho” de Cadu Ribeiro e Arthur Favela se inclui com méritos na valiosa discografia do samba paulistano.

Cadu Ribeiro, conhecido na noite da capital paulista por seu maravilhoso trabalho junto ao Trio Gato Com Fome, em parceria com o compositor Arthur Favela, lançaram no dia 20 de outubro obra que sacramenta a intuição de muitos: a nova geração do samba de São Paulo é muito mais que um prodigioso ajuntado. Veio para ficar e marcar seu nome na história. É realidade.

Disponível em todas as plataformas, “Talho” é um álbum longo (para os dias de hoje) de doze faixas, todas ali com um propósito, sem nenhuma encheção de linguiça. Pelo contrário. Dá a sensação de que a dupla dispunha de mais um incontável número de boas músicas que precisaram ser submetidas a um processo de expurgo atroz, elegendo, ao fim, as doze laureadas canções que caberiam. É disco sem barriga, para ouvir de cabo a rabo.

Para àqueles que como eu se veem por vezes mal-humorados com as novidades da música brasileira, apenas para ilustrar e encorajá-los, permito-me uma comparação canalha. A poesia, em diversos momentos, se vê embriagada de uma sensibilidade à la Paulo César Pinheiro. Em outros está dotada daquela sagacidade cortante vista nas crônicas e letras de Aldir Blanc. A faixa título, Talho, tem as duas coisas.

Menção honrosa para “Só um pouquinho”. Balanço puro, melodia esperta e linha de sopro irretocável. A letra, ponto alto, é sacanagem pura – no melhor sentido da palavra. A faixa “Quase” vai pelo mesmo caminho.

Para a playlist dos que sofrem de amor, indico “Mesmo sem ser feliz” e “Nossa cancão”. Haja Domecq e lenço.

A impecável direção musical e o arranjo, assinados por João Poleto, têm cara de direção e arranjo de samba num disco de samba. Esse é um detalhe valioso, acredite.

O elenco de músicos não fica para trás. É recheado de outros grandes nomes dessa ótima leva a que me refiro no começo da resenha. Gregory Andreas no cavaco, Paulo Ribeiro no violão, Douglas Alonso na bateria, Alfredo Castro na percussão, Eliezer Tristão na tuba e Adriana Lombardi no violoncelo. Participam ainda a cantora Juliana Amaral (faixa 5 – “Nossa Canção”), o carioca Moyseis Marques (faixa 12 – “Tempo dos Poetas) e Flora Popovic no coro. A mixagem e masterização ficaram por conta de Beto Mendonça.

Que fique claro, embora beba nas melhores fontes, há novidade. Mais uma vez a estrela de São Paulo brilha iluminando os pioneiros, como cantaram João do Violão e Miltinho.

Ouça na íntegra:

Cadu Ribeiro e Arthur Favela se apresentam nessa quarta-feira (05), 21h, no Ó do Borogodó (R. Horácio Lane, 21 – Pinheiros).