Boulos busca Silvio Almeida e Haddad acena para Alckmin

Boulos busca Silvio Almeida e Haddad acena para Alckmin
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Hoje, a coluna de Mônica Bergamo na Folha informa que Guilherme Boulos se reuniu com Silvio Almeida para discutir a possibilidade do professor e advogado compor a chapa do PSOL ao governo estadual de São Paulo.

Silvio Almeida é professor do Mackenzie e da FGV, e teve uma passagem como professor visitante da Duke University nos EUA, e já é uma figura muito respeitada no meio acadêmico, na mídia e na política, tendo sido entrevistado no Roda Vida da TV Cultura, no Programa do Bial na Globo, e foi convidado para o Comitê Externo que avaliou e propôs medidas após o assassinato de um homem negro por seguranças da rede de supermercados Carrefour.

Sua carreira na advocacia também está em ascensão, após ter sido convidado para a prestigiada banca de advogados fundada por Wafrido Warde. Não por acaso, o convite de Boulos foi realizado na casa de Warde, amigo e mecenas do pré-candidato do PSOL.

Trata-se de uma reação da pré-campanha de Boulos a governador ao contínuo isolamento que o PT tem imposto ao PSOL na eleição estadual de São Paulo com a pré-candidatura de Fernando Haddad e a ofensiva petista para recuperar os nichos identitários.

O PSOL optou por não ter candidato a presidente para apoiar a volta de Lula, e em troca está pedindo apoio do PT à candidatura de Boulos em São Paulo. No entanto, o PT não quer saber de abrir mão de disputar o maior colégio eleitoral do país com seu número na urna, e menos ainda Haddad quer ficar de fora da eleição como principal cabo eleitoral de Lula para tentar garantir sua posição como ministro, de preferência da Fazenda, em um eventual retorno do petista ao Palácio do Planalto.

Nos bastidores, o PT tenta intensamente atrair Márcio França dentro de uma aliança nacional com o PSB, e se diz aberto ao diálogo com Alckmin, após seu rompimento com o governador João Doria e o anúncio de desfiliação do PSDB. Em público, ontem, Haddad fez um forte aceno para Alckmin na tentativa de criar uma polarização contra Doria e seu vice candidato a sucessão, Rodrigo Garcia. O convite de Boulos para Silvio Almeida é uma tentativa de criar um fato político positivo em contraposição às articulações de Fernando Haddad de buscar uma aliança com Geraldo Alckmin e Márcio França, e à indiferença petista em relação à candidatura do PSOL.

Mas além disso, existe uma disputa estratégica entre PT e PSOL em São Paulo para além da eleição majoritária. Como se sabe, o PSOL é uma dissidência do PT contra o governo Lula que cresceu apostando na radicalização das pautas identitárias e filiou muitas lideranças de esquerda que antes orbitavam o PT. Agora, Lula quer recuperar a hegemonia nesses setores, particularmente em São Paulo.

Nesse sentido, o PT já filiou Jean Wyllys que saiu do PSOL após diversas acusações de homofobia dentro do partido, e anunciou o desejo de que o ex-BBB transfira seu título de eleitor para São Paulo, devido a sua grande rejeição no Rio de Janeiro. Além disso, São Paulo sedia uma das maiores Paradas Gays do mundo, que movimenta uma poderosa indústria de turismo e cultura muito influente politicamente. A tendência é que os apoios desse setor econômico-cultural que deram muitos votos para a ex-petista Marta Suplicy por exemplo, agora sejam reorganizados para o PT por Jean Wyllys.

Além disso, outra figura de destaque que o PSOL deve perder para o PT na agenda identitária é Douglas Belchior, líder do movimento negro UNEAFRO, e coordenador do Fundo Brasil de Direitos Humanos que atua junto a instituições como a Fundação Ford e a Open Society no apoio a organizações não-governamentais. O ativista se desfiliou recentemente do partido, também acusando o PSOL de práticas racistas, e deve disputar a eleição para deputado pelo PT.

Esses são apenas dois exemplos do estrago que o PT está causando em nichos estratégicos para o PSOL nas eleições proporcionais pela perspectiva de volta ao poder, ainda mais diante da cláusula de barreira, cujo percentual irá subir nas próximas duas eleições. Se Lula voltar a ser presidente, a capacidade do governo federal de desidratar ainda mais o PSOL nesses nichos atraindo esse tipo de liderança será ainda maior.

Esses são os dois focos do PT em São Paulo. Haddad quer ir ao segundo turno da eleição para governador abraçado em Lula, para conseguir sentar em uma cadeira de ministro novamente e mostrar que é muito mais competente que Paulo Guedes para fazer reformas devido seu treinamento no Insper com Marcos Lisboa, e quem sabe, ser o candidato à sucessão em 2026. Já os movimentos identitários também querem voltar para o governo, dessa vez muito mais organizados, quem sabe, sob a liderança da ministra Djamilla Ribeiro, com apoio da Globo e do Itaú, no lugar da doidinha Damares Alves.