A política externa brasileira

CESAR BENJAMIN A política externa brasileira
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A única explicação que encontro para a reiteração de contenciosos desnecessários com a União Europeia é a de que o nosso governo quer fazer o Brasil cair no colo dos Estados Unidos sem alternativa possível, o que nos levará a ceder tudo.

É um contrassenso. No início do século XX, o Barão do Rio Branco, patrono da nossa diplomacia, entendeu algo crucial: a Inglaterra era a potência declinante e os Estados Unidos eram a potência em ascensão.

A política externa brasileira levou essa inflexão muito a sério e se reposicionou, mas mesmo assim não se alinhou cegamente com os americanos. As negociações em torno da chamada Questão do Acre, por exemplo, foram muito duras, com risco de guerra. Brasil de um lado, Estados Unidos de outro.

Depois, Getúlio Vargas flertou com a Alemanha para obter Volta Redonda dos americanos. Começou ali o grande impulso da industrialização brasileira.

Hoje estamos fazendo o movimento inverso, com um alinhamento humilhante em relação à potência agora em declínio.

Deveríamos ser muito mais cautelosos diante da grande disputa de hegemonia, em curso. Se não, vejamos.

Na primeira metade do século XX, Inglaterra e Alemanha disputavam a primazia, taco a taco; no longo prazo, os dois se enfraqueceram e os Estados Unidos ascenderam.

Na segunda metade do século XX, Estados Unidos e União Soviética disputavam a primazia, taco a taco; no longo prazo, os dois se enfraqueceram e a China ascendeu.

Isso não é casual. A posição de terceiro interessado tem muitas vantagens. Mas só para quem sabe explorá-la.

Hoje, Estados Unidos e China disputam. No longo prazo, se não fosse governado de maneira tão estúpida e despreparada, o Brasil poderia abrir os espaços para ascender.

Somos o país das oportunidades perdidas.

Por Cesar Benjamin