Por Christian Lynch – A estranha leniência do sistema político com Bolsonaro, um presidente na boca da derrota, bem como a timidez da oposição, se explica pelo fato de que a onda conservadora arrefeceu, mas continua. Bolsonaro arrisca ser derrotado, não porque passou, mas só pelos deméritos pessoais.
Fosse outro presidente conservador, menos desequilibrado, fascistóide, incompetente, faccioso, a reeleição era favas contadas. Estamos vendo que quase todo o “ar do tempo”, conservador e antirrepublicano, que o elegeu e a esse Congresso em 2018, continua prevalecendo.
Bolsonaro periga ser o primeiro presidente a ser derrotado em campanha à reeleição, e no primeiro turno. Mas continua gozando de um prestígio, de um respeito, uma tolerância no meio político, aparentemente inexplicáveis para um pato manco. Mas é que ele atende ao “ar do tempo”.
O “ar do tempo” é o do conservadorismo, ainda certo radicalismo, o inconformismo dos políticos com a Constituição e as limitações que ela impõe, e principalmente com o horror ao judiciarismo de fundo liberal, que sustenta todos os esses traços do tempo em que vivemos.
O mundo político que elegeu Bolsonaro ainda está aí. Nada de seu governo de ruína abala a simpatia que lhe tem muita gente, porque ninguém quer voltar ao tempo “progressista” em que o legislativo ia a reboque do governo e todos caiam nas mãos do PGR ou eram cerceados pelo STF.
Ainda que Lula seja eleito, esse ”ar do tempo” não mudará muito. Muito da obra de Bolsonaro ficará. O congresso não desejará retornar à sua subalternidade, o novo governo não aceitará nomear PGRs nem ministros do STF que não lhe sejam simpáticos.
Enfim, os atores podem parecer velhos, mas a peça é nova.
PS: Vejam que me refiro mais ao “ar do tempo” do sistema político. Mas em medida considerável ele resiste também na sociedade…
Por Christian Lynch