14 de setembro: Dia do Frevo

14 de setembro Dia do Frevo
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Por Luiz Campos – Ao consultarmos o dicionário, encontraremos o frevo definido como “som de caráter urbano e de salão”. Já Câmara Cascudo, com a poesia de quem soube ler o povo, descreveu o ritmo como “a grande alucinação do carnaval pernambucano”. É de fato impossível imaginar tal festa sem o ritmo que se tornou a manifestação cultural mais famosa de Pernambuco, com a imortal melodia de “Vassourinhas”, o mais famoso frevo, ressoando no inconsciente coletivo de todo o Brasil.

O frevo surge na década de 1850, durante os desfiles das bandas do Quarto Batalhão de Artilharia e do Corpo da Guarda Nacional. Esses desfiles eram ambientes bastante agressivos, inflamados pela imensa rivalidade entre os partidários das duas bandas. Os eventos reuniam uma verdadeira multidão de capoeiras armados de facas e porretes, que vinham gingando à frente dos músicos, enquanto desafiavam seus rivais. Aqui começava a se delinear o famoso e característico passo do frevo, junto com a transformação dos hinos marciais num ritmo original. Com o tempo, fanfarras de trabalhadores pobres também passaram a participar dos desfiles, o que adicionou mais tempero na ebulição de ritmo e dança. Com a participação desses novos grupos, sem compromisso com as canções militares, começava a nascer algo realmente popular.

Com o surgimento dos clubes de rua, que trouxeram para esse mosaico cultural elementos de procissões religiosas como símbolos e estandartes, o frevo ia ganhando sua face. É curioso perceber que os mais famosos clubes eram o Clube das Pás, o Misto Vassourinhas e o dos Lenhadores e junto com eles vinham a simbologia justamente de pás, vassourinhas e machadinhas.

O típico cortejo de um clube tradicional no começo do século XX trazia à frente um rico e pesado estandarte rodeado por pessoas fantasiadas. Depois seguia uma onda de centenas de passistas dançantes e acrobáticos, antes da fanfarra formada principalmente por metais. Por último vinha o chamado cordão, formado por sócios dos clubes, também fantasiados, empunhando seus símbolos e executando manobras ensaiadas de tradição pastoril. Essa impressionante folia de som e imagem se tornava ainda mais surreal com o odor extremamente forte do carbureto das tochas de iluminação, misturado com suor e lança-perfumes. Um verdadeiro cortejo do delírio!

Nessa época, entre 1905 e 1915, o frevo de rua instrumental adquire sua face definitiva, uma síntese tropical de dobrado, polca-marcha, quadrilha e maxixe, que foi sistematizada principalmente pelo grande Capitão Zuzinha. Esse é considerado, pelos puristas, como o único frevo legítimo, diferente de variações como o frevo-canção e o frevo-bloco. Tem uma característica que nenhum outro ritmo popular brasileiro apresenta: já nasce orquestrado. Nessa época o estilo também é batizado, frevo é palavra que vem do jeito que o recifense pronuncia o verbo ferver.

A era de ouro do estilo foi durante as décadas de 1930 e 1940, época de grandes nomes como Nelson Ferreira e Capiba. O estilo chegou ao sul do país, gravado nas vozes de lendas como Francisco Alves, Carlos Galhardo, Araci de Almeida e Mário Reis. Fez também muito sucesso na Bahia da década de 1950, com Dodô e Osmar, os pais do trio elétrico, se tornando o ancestral sonoro do carnaval daquele estado.

Ainda hoje o frevo continua vivo e pulsante, ecoando pelos carnavais de Pernambuco num oceano de cor e som, em ondas de foliões na grande alucinação do carnaval, tão bem descrita por Câmara Cascudo.

Por Luiz Campos

Publicado pela Frente Sol da Pátria

14 de setembro Dia do Frevo