Xi Jinping aumenta seu poder no 20º Congresso do Partido Comunista da China

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Foto: Xinhua/Ju Peng
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Por Hugo Albuquerque – Ontem, Xi Jinping foi reeleito como secretário-geral do Partido Comunista da China. Não há novidade nisso, mas o mundo lançava seus olhos para Pequim por um motivo: com qual força ele emergiria na reconfiguração periódica do Partido? E foi muita. Precisamos entender isso.

O Partido Comunista Chinês possui uma cúpula com 7 figuras de destaque, o chamado Comitê Permanente. Abaixo dele está o Comitê Central. O maior cargo da China, desde 1936, no entanto, é o de presidente da Comissão Militar Central do Partido.

Sim, os cargos de Estado são menores, uma vez que o Partido, como organização viva da classe trabalhadora, o comanda. Mas, igualmente, o comando político do Estado está mesmo na Comissão Militar Central. Quer entender quem realmente mandou na China, procure essa lista.

Esse controle político sobre as forças armadas, uma consequência do hiperrealismo chinês, se funda no princípio Dǎng zhǐhuī qiāng [黨指揮槍] – “o Partido comanda a arma”. A secretaria-geral, portanto, é só um meio de coordenação política do Partido.

Como o Partido, como organização-viva da sociedade desde a classe trabalhadora, controla o Estado, hoje se resolveu criar um paralelismo no qual o presidente da Comissão Central Militar é secretário-geral do Partido e, também, Presidente da República.

Dito isso, saber quem são os 7 que ocupariam o comitê permanente é saber quão forte estaria Xi. Esses 7, por sinal, se dividem. O cargo de premiê é uma chefia e supervisão da administração, por exemplo. E lá dentro, eles se distribuem em tarefas.

Da composição antiga do comitê permanente, só mesmo Wang Yang e Li Keqiang tinham posições diferentes da de Xi. Mas foram leais. A única briga visível eram contra figurões, eminentemente corruptos, que apareciam como colateralidades das políticas de Reforma e Abertura.

Como eu disse aqui, no início do 20º Congresso do Partido, Xi nadou de braçada na disputa contra esses setores. Tudo por uma razão simples: eles eram caricaturalmente corruptos. E mesmo quem não era, se favorecia desse ecossistema mafioso, o qual girava em torno de Xangai.

Com a política anticorrupção, Xi resolveu tudo isso. E manteve aliados no comando da secretaria de Inspeção Disciplinar. Primeiro Wang Qishan, hoje Vice-Presidente da República, depois Zhao Leji, mantido do Comitê Permanente, e agora Li Xi, admitido no CP.

Em grande medida, esse enfrentamento encontra respaldo na obra de Wang Huning, o grande formulador teórico do Partido – uma espécie de maestro dessa tarefa, que já escreveu longamente sobre corrupção, diferenciando o conceito chinês do ocidental.

É de Huning também uma devastadora crítica ao liberalismo político, e suas influências diretas ou indiretas, a começar por uma análise da decadência dos EUA, país que conheceu e onde chegou a estudar. Isso embasa as mudanças dos últimos anos.

Huning ascendeu levado pelo Grupo de Xangai, mas não só sobreviveu a sua perda de influência como, ainda, o superou. Tudo isso converge na direção do “Pensamento Xi”, o qual é encarnado por uma liderança pessoal que, no entanto, atua para o coletivo.

Depois dos anúncios da madrugada de hoje, apesar de persistirem lideranças com origens em Xangai ou mesmo na Liga da Juventude, eles não constituem mais frações com ressonância na ponta. Xi unificou mesmo o Partido, sobretudo porque ganhou a briga desde a base.

Por Hugo Albuquerque