Vitória fecha patrocínio com site de acompanhantes: uma análise sobre futebol e cultura pornificada

Vitória fecha patrocínio com site de acompanhantes: uma análise sobre futebol e cultura pornificada
Vitória fecha patrocínio com site de acompanhantes: uma análise sobre futebol e cultura pornificada
Botão Siga o Disparada no Google News

Por Tatiana Graciano.

Jornalista, especialista em mídias digitais, dirigente partidária do PDT Recife e militante anti-pornografia.

Vitória fecha patrocínio com site de acompanhantes: uma análise sobre futebol e cultura pornificada

O futebol sempre foi um ambiente hostil para as mulheres, seja pela construção social dos papéis femininos, pelas caricaturas criadas pela publicidade que reforçam a objetificação ou pela torcida majoritariamente masculina ser desrespeitosa em campo. Embora seja um esporte que tem raízes na identidade nacional, não é acessada pelas brasileiras.

Para não dizer que não falei das flores, o debate sobre machismo estrutural e outros tipos de opressão têm aumentado e chegado na mídia. Devido a esse movimento, os comerciais de cerveja têm apelado cada vez menos para a (semi) nudez feminina e os próprios clubes estão fazendo campanhas para incentivar as torcedoras irem aos estádios.

Inclusive, a Justiça achou uma forma de “punir” os times que tiverem suas torcidas envolvidas em episódios de violência. Estão sendo realizados jogos só com mulheres e crianças na arquibancada, deixando que as torcedoras deem uma aula de como fazer um verdadeiro espetáculo no campo.

Isso é bom e merece nosso reconhecimento, mas não é o suficiente para nos iludirmos. Afinal, é mais um público pagante e, portanto, ter mais mulheres amantes de futebol significa mais ingressos vendidos e ampliação de público alvo para produtos relacionados.

Em outras palavras, isso não acontece porque a pauta tocou o coração dos empresários. Ela só é interessante para compor um posicionamento com narrativa socialmente aceita e ainda dá lucro. Ou seja, é um bom negócio.

Com essa constatação, então, vem a pergunta: o que um site de “acompanhante” (prostituição) tem a ver com futebol? Aparentemente, tudo, afinal reforça todos os estereótipos do esporte ser um entretenimento exclusivamente masculino. Além de naturalizar a prostituição, com uma ruiva sorridente na foto, o clube fortalece uma indústria bilionária de exploração de mulheres.

Alguns podem dizer: “os clubes brasileiros estão quebrados, toda ajuda é bem vinda”. É bem verdade, muitos times deixam a desejar no quesito gestão. Diretorias irresponsáveis abusam de compromissos financeiros e, hoje, amargam dívidas milionárias com a União – sem contar as dívidas trabalhistas de atletas e funcionários.

Para se ter noção, as dívidas dos clubes das principais divisões do futebol brasileiro (Séries A, B e C), somados, chegam a quase R$ 830 milhões. Considerando isso, é normal a busca dos clubes por bons contratos e parcerias comerciais que possam gerar uma boa lucratividade.

É muito comum que os times busquem atrelar sua marca esportiva ao mundo empresarial a fim de reduzir o déficit financeiro. Ou seja, a procura por formas de administrar melhor suas receitas é muito legítima. No entanto, o limite do “razoável” foi ultrapassado. Não é sobre um produto comercializável como material de construção ou bebidas, é sobre corpos de mulheres.

Este texto pode gerar comentários relativizando o fato e discursos sobre “a escolha” da mulher. No entanto, não existe nenhum malabarismo teórico ou meras “vivências” que convença a classe trabalhadora de que uma sociedade justa e igualitária, com educação e formação digna, gere mulheres com o sonho de comercializar seus corpos.

Existem exceções? Claro. A contaminação pela ideologia dominante com suas deturpações e a própria confusão do feminismo liberal resulta nessas pessoas. Se quisermos individualizar essa discussão, tudo bem, podemos sair do campo sociológico para a psicologia. Mas é importante dizer que lá também não tem muita brecha argumentativa.

Já existem estudos científicos que relatam as perturbações, crenças disfuncionais e angústias de pessoas que levam “vidas promíscuas”, como denominaria o senso comum. São indivíduos com fortes tendências a ter ansiedade, depressão, pânico, neuroses e outros transtornos. Isso é mero moralismo? Infelizmente para alguns, é apenas ciência – estudo de casos, métodos, análises e comprovações de resultados.

Sem aprofundar mais nessa seara, este texto tem o objetivo de fazer refletir sobre a mensagem que esse patrocínio passa para os torcedores, sobretudo as torcedoras, e para a sociedade em geral. Quanto mais se naturaliza as faces imundas dessa cultura pornificada que vivemos, mais danosa ela será para as mulheres. Afinal, a quem serve a prostituição entrar para o hall de empresas referenciadas no mundo do futebol? Uma dica: não são as mulheres.