Genocídio sociedade anônima

Botão Siga o Disparada no Google News

O genocídio em curso não é uma fatalidade ou um equívoco. Também não se trata de “necropolítica”, conceito vago e impreciso que não explicita claramente quem mata e quem morre, debitando a um hipotético “Estado” que paira acima das classes a decisão sobre quem é cancelado para sempre e quem não.

O GENOCÍDIO É UM PROJETO DE PAÍS.

Não sejamos injustos. O genocídio não é obra apenas de Jair Bolsonaro, embora o boçal seja seu comandante. A matança em curso tem setores das classes dominantes claramente identificados com esse projeto.

É uma diretriz das Forças Armadas, positivas e operantes, que designaram um de seus generais da ativa para concretizá-lo, no estratégico Ministério da Saúde. O órgão foi minuciosamente desmontado para abrigar duas dezenas de quadros fardados nessa missão. Para apoiá-lo, milhares de militares cumprem missões em variadas boquinhas federais.

É um projeto da área econômica, capitaneada por Paulo Guedes. Sua ferramenta maior é o bloqueio de qualquer tipo de auxílio emergencial efetivo. Sem dinheiro, as pessoas – tangidas pela fome e pelo desespero – têm de sair para trabalhar, aglomerando-se em transportes públicos lotados – modernos tumbeiros urbanos – disseminando o vírus a granel. Sem auxílio, não há lockdown possível e Guedes não apenas sabe, como pensou nisso com afinco.

É um projeto de grande parte do Congresso Nacional que, através de seus ex e atuais dirigentes, jamais molestaram Bolsonaro minimamente no que importa. Ao contrário, valem-se da pandemia para aprofundar a barbárie neoliberal entre nós, desmontando o Estado e precarizando ainda mais o mundo do trabalho. A aguerrida oposição pouco pode contra o trator fisiológico movido a verbas e colocações graduadas no aparelho de Estado.

Não podemos nos esquecer de figuras desfrutáveis de parte do STF, que amarelaram diante do primeiro arreganho castrense para se associarem a uma fraude eleitoral à luz do dia. Os seis que abriram mão de suas prerrogativas há três anos são sócios da tragédia em curso.

Há a Lava Jato e seu trêfego juiz, acompanhado de um plantel de jagunços fantasiados de procuradores.

E há a inefável Faria Lima, avenida presente em todo o Brasil. A Faria Lima não é um lugar, não é uma localidade. É um jeito de ser, um estado de espírito, um projeto de vida. A Faria Lima hoje é um fantasma a assombrar corredores e salões de Brasília. “O que a Faria Lima vai dizer?”, “O que a Faria Lima vai fazer?” são pensamentos recorrentes nas conversas sobre oscilações do câmbio, da bolsa, da fuga de capitais e da “confiança do mercado”, mantra infalível contra qualquer pensamento dissonante.

Enfim, esses são alguns dos sócios do grande projeto genocida em curso, o projeto mata-pobre.

Mas como todo plano infalível, o Grande Projeto Nacional do Genocídio começa a apresentar problemas. Eles pensaram que a praga jamais chegaria até eles, protegidos que estavam em seus bunkers nos Jardins, no Leblon, na fazenda, sei lá.

Agora berram assim, no escurinho da sauna ou no meio da quadra de tênis.

“A porra do meu piscineiro deve ter vindo contaminado, a empregada, aquela preta burra que saiu com os cachorros, deve ter parado em algum lugar que não devia, porra! O vírus chegou aqui!”

“Agora o Einstein está lotado, o Sírio tem gente saindo pelo ladrão, caralho! Pago o dobro mas não tem leito. Que porra é essa? Quero ir pra Miami, sei lá! Caralho! Porra, Bolsonaro, o que faço? País de merda, povinho de merda. Que morram!”

“Quero ir embora!”

O projeto é contagiante.