Sobre a prisão de Roberto Jefferson

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O ex-deputado federal e presidente do PTB, Roberto Jefferson, foi preso nesta manhã pela polícia federal por ordem do Ministro Alexandre de Moraes do STF no âmbito de inquérito que investiga milícia digitais que buscam desestabilizar as instituições democráticas.

1. O bolsonarismo, como força política autônoma, surge do “monstro de forças” que se reuniu em torno da candidatura de Jair Bolsonaro em 2018, com uma característica revolucionária na forma e reacionária no conteúdo.

2. O conteúdo reacionário todos conhecemos: agenda antimoderna, autoritarismo, capitalismo sem qualquer regulação, desmanche neoliberal do estado e dos direitos, submissão à potência imperialista hegemônica no continente, moralismo de goela etc.

3. A forma revolucionária reside na adoção da estratégia política que pode ser resumida na fórmula que até então era apanágio da esquerda revolucionária: “dentro da ordem, contra a ordem”.

4. A esquerda revolucionária – quando havia esquerda revolucionária – atuava dentro da ordem das instituições, mas sempre se apresentando como uma alternativa, contra a ordem, para a eventualidade de uma crise terminal do sistema político. Não é exatamente assim que vem se comportando Jair Bolsonaro? Não é exatamente essa a orientação política que Bolsonaro vem emprestando ao bolsonarismo?

5. A boa graça ou a desgraça da esquerda revolucionária dependia da dialética sempre problemática de se estar dentro da ordem, contra a ordem. Sem a ocorrência da crise terminal do sistema político, os “apocalípticos” acabavam se convertendo em “integrados”, ou eram expelidos para o terreno da insignificância política.

6. O tão falado golpe de Bolsonaro, contrariamente ao que muitos pensam, não depende de um ato de vontade do ex-capitão ou de quem quer que seja: depende da crise terminal do sistema político. Ele vem dando seguidas mostras de que aprendeu uma lição que não lhe era destinada. Bolsonaro vem copiando o modelo “na ordem, contra a ordem”, e tal como acontecia com a esquerda revolucionária, o futuro do seu projeto “revolucionário” depende da crise terminal do sistema político.

7. É aqui que entra Roberto Jefferson… Alguém tem dúvida de que a “alopragem” do boquirroto é bem calculada e que ele “cavou a sua expulsão”? Para Bolsonaro, a hora é a da semeadura da crise terminal, e Robertão, provocador profissional, ofereceu-se em holocausto em nome da causa bolsonarista.

8. O projeto “revolucionário-reacionário” de Bolsonaro, a meu ver, não coincide com o dos militares nem com o da plutocracia rentista. O projeto dos militares é o de tutelar o estado e a sociedade – de molde a confiná-los política e ideologicamente nos estreitos limites do reacionarismo – e o de preservar os seus interesses de casta. O projeto da plutocracia rentista é o de levar a termo a implantação da agenda de desmanche neoliberal em curso desde Collor.

9. Ambos os projetos podem ser realizados sem a ruptura “revolucionária-reacionária” de Bolsonaro, pensam o oficialato das FFAA e a “Faria Lima”. Mas, Bolsonaro não é um inimigo, no máximo, um amigo às vezes incômodo…

10. A história da Europa na primeira metade do século XX nos mostra que as relações da burguesia com os fascismos sempre foram ambíguas, deliberadamente ambíguas, para o bem dos fascistas e dos burgueses. O bolsonarismo como uma força fascistóide de caráter “revolucionário-reacionário”, ao que tudo indica, veio para ficar, aqui e alhures.