Pazuello cai e Centrão toma conta do Ministério da Saúde

Nos corredores de Brasília já não havia dúvida: o general Pazuello não estaria mais à frente do Ministério da Saúde. Faltava o pretexto. Retirar Pazuello, um soldado de fidelidade canina, é como retirar o próprio Bolsonaro do comando da saúde. Teria que ser feito com cuidado.
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Nos corredores de Brasília já não havia dúvida: o general Pazuello não estaria mais à frente do Ministério da Saúde. Faltava o pretexto. Retirar Pazuello, um soldado de fidelidade canina, é como retirar o próprio Bolsonaro do comando da saúde. Teria que ser feito com cuidado.

A pandemia à brasileira atinge números cada vez maiores. O general Pazuello, tratado como autoridade em logística, foi incapaz de organizar minimamente a campanha de imunização. Em quase 60 dias, foram imunizados apenas 4% da população. E tudo isso num país que ostenta um sólido sistema de saúde, com campanhas de vacinação de absoluto sucesso, como a da H1N1, que vacinou cerca de 90 milhões de pessoas em apenas três meses.

Pazuello é um preposto de Bolsonaro. Foi colocado lá para cumprir o que Nelson Teich não teve coragem de fazer: defender a narrativa do presidente a qualquer – qualquer mesmo – custo. Tratamento precoce, vacina jacaré, spray kasher. Todas as loucuras bolsonaristas tiveram eco em sua gestão. Em recompensa, recebeu um final menos trágico que seus antecessores: foi demitido com o pretexto de “estar doente”, apesar de aparecer cada dia mais rechonchudo, palermo e avermelhado. A doença de Pazuello é amar demais. Bolsonaro, é claro.

No momento em que a tática bolsonarista passa a ser uma aposta na vacinação em massa – ante a já esquecida “imunidade de rebanho” – a figura de Pazuello já não comportaria o giro necessário. Além disso, o crescente número de mortes e o episódio trágico de Manaus deixaram o “rei da logística” completamente enfraquecido.

O centrão, que almeja este ministério desde que Ricardo Barros foi substituído por Mandetta – quando o este só tinha olhos para a privatização do SUS e para as botas de Bolsonaro – já fez questão de indicar seus preferidos. Ludhmilla Abrahão Hajjar, professora da USP, é a favorita de Arthur Lira. Em segundo lugar na bolsa de apostas está o cardiologista Marcelo Queiroga, que outrora já fora sondado para o mesmo cargo.

O mesmo Centrão que hoje pleiteia a indicação do ministerial foi responsável direto pela queda de Pazuello. A justificativa é farta: má gestão, pouca articulação, nenhuma capacidade logística, retórica vazia e falta de apadrinhamento político. Se não bastasse isso tudo, o ressurgimento do fator Lula aumentou o já abundante apetite “centrista” por espaços na administração pública.

Pazuello, que neste domingo aproveitou a demissão para ir ao mercado comprar carne e cerveja, parece aliviado. As mortes sairão de suas costas e aparentemente sua vida voltará ao tédio normal. Diferentemente dos que não tem mais vida graças às trapalhadas do nosso ex-ministro.

Para estes mortos e seus familiares, não tem churrasco neste domingo.