O Brasil de Helena

Botão Siga o Disparada no Google News

Helena é minha filha. Eu provavelmente nunca escrevi em primeira pessoa neste espaço – que criei, com meia dúzia de sonhadores, há alguns anos. De todas as coisas que eu já tratei nesta coluna, provavelmente a única que realmente importa é a Helena. O Brasil, perto de Helena, é apenas um assunto aborrecido. Política econômica? Mídia e propaganda?

Tudo isso não faz o menor sentido. Portanto, se você já leu alguma coisa que escrevi, definitivamente saiba que, perto do que estarei a escrever nas próximas linhas, tudo que já fora escrito não vale de nada.

O novo sempre vem. O exercício infindável da existência impõe a novidade. A história, essa senhora implacável, não nos deixa dúvida: se há algo com que realmente devemos nos preocupar é com os jovens. As gerações pressupõem a continuidade, o aprimoramento das linguagens, dos signos sociais unificadores e da vida em sociedade, enfim. Só existimos pelo que ainda irá existir.

Helena nasceu em 2017, o ano em que eu passei a acreditar em Deus. Não é uma coincidência. O meu Deus mede pouco menos de um metro, eventualmente troca o R pelo L, é bem tagarela e ama dinossauros. Minha devoção é messiânica. Sou um beato, pela primeira vez na vida. E dos radicais: me penitencio todo santo dia por não ser bom o suficiente para o meu senhorio. Finalmente, entendi a culpa cristã.

Minha filha é co-responsavel pela minha presença nessas bandas. Não sou um ideólogo romântico, a política impôs o ritmo do pragmatismo duro em minha vida. Não estou aqui pelo trabalhismo, pelo Ciro Gomes, pela esquerda ou sei lá o que. Estou aqui por Helena e só por ela. Participar do debate público desse jeito só faz sentido se for pra contribuir – um pouquinho – com a construção de um país melhor pra ela. Com todo respeito ao leitor, eu estou pouco me lixando pro resto. Não é pessoal.

O feriado de Nossa Senhora é propositalmente o dia escolhido para celebrar as crianças. As crianças que, como a minha filha, possuem dentro de si a chave da libertação do nosso povo. A nossa tarefa é só não deixar a porta emperrada.

O trabalhismo é a doutrina política das crianças, e talvez essa seja a maior conquista da doutrina política que Getulio e Brizola nos legou. A percepção de que a única transformação possível advém dos jovens. As crianças brasileiras são a mola propulsora do mais ousado projeto de transformação nacional.

Helena e Brasil se misturam numa coisa só. Parecem pontos distantes, mas, se olhados com olhos de ver, são convergentes. O Brasil só deixará de ser um assunto aborrecido para a maioria quando puder se levantar novamente para ser aquela pátria-mãe gentil que um dia fomos, não só para minha Helena, mas para todas as Helenas do país.

É para isso, afinal, que estamos aqui. Só por isso.