O plano bolsonarista e a humildade progressista

O plano bolsonarista e a humildade progressista
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O que quer Bolsonaro com a baderna de hoje? E o que querem os bolsonaristas? São duas perguntas diferentes e a ex-querda não enxerga a resposta de nenhuma delas.

A esquerda histérica que chama o bolsonarismo de “direita histérica” começou a se preparar para enfrentar os porões da ditadura turbomachotecnobolsonazifascista e ser torturada para confessar se usa ou não linguagem neutra.

Mas é pouco provável que parte substancial dos militares suporte qualquer sonho de Bolsonaro de dar um golpe. Ele age provavelmente com objetivos muito mais prosaicos.

Seu método é pura fanfarronice populista trumpista. Fomentar baderna para mobilizar a base, fingir que lutou para baixo e negociar para cima. Mostrar que ainda está vivo, que mobiliza, que tem poder para fazer algo que não tem poder para fazer.

Provavelmente o roteiro que está escrito é esse:

1) Paralisações de estradas para começar a mobilizar fisicamente a base radicalizada;

2) Espalhar o medo através de videomontagens de saques e transtornos pelo país;

3) Espalhar a “notícia” de provas de fraude nas urnas;

4) Declarar a eleição fraudada ou no mínimo inauditável;

5) Decretar Garantia da Lei e da Ordem para controlar os tumultos;

6) Negociar a saída do poder e a sua liberdade e dos filhos.

E os bolsonaristas? O que querem?

Que tal perguntar para eles mesmos? Eu fiz isso hoje com 4 pessoas das minhas relações que votaram em Bolsonaro. Sabe a resposta?
Elas querem respeito.

Elas estão se sentindo humilhadas por trabalharem de sol a sol para serem governadas por um “ladrão”.

Elas são em sua maior parte aquilo que a ex-querda odeia e escarnece: “cidadãos de bem”, religiosos, de família, que passaram anos desde 2013 ouvindo na TV que o país estava sendo limpo. Elas foram às ruas. Elas continuaram pagando seus impostos. Trabalhando. Criando seus filhos.

O STF e a mídia disseram para elas que Lula era o maior ladrão do Brasil. A raiz de nossos males. E então prenderam ele e mais quarenta ladrões. Disseram para elas que o Brasil tinha mudado. E elas elegeram um símbolo dessa mudança, um idiota que passava na frente delas naquele momento esbravejando, mas que era uma peça solta do sistema que elas viram que era podre.

Então 3 anos depois disseram para elas que estava tudo errado. Era tudo ao contrário. Que o presidente delas era na verdade belzebu e que belzebu era um mártir sacrificado pelo antes herói da Globo, Sérgio Moro. Disseram para elas que simplesmente se enganaram de vara, mas só perceberam depois de quatro anos. Soltaram o “Ali Babá” e todos os quarenta ladrões, inclusive o que tinha 51 malas de dinheiro vivo no apartamento. Aí ele fez um vídeo delas rindo e dizendo que elas iam ter que engolir ele. Fizeram campanha 24 horas por dia, Globo, Folha, STF e TSE para eleger aquele que três anos antes satanizaram. Impediram ativamente pela 4ª vez a modernização do sistema de voto no qual elas não confiam e censuraram até a empresa de televisão que elas viam e o candidato delas na campanha.

Advinhem? Elas não vão engolir.

E a ex-querda? Como se comporta diante disso?

Chama os caminhoneiros de idiotas ou pelegos obedecendo a locautes. Diz que os bolsonaristas são autoritários e que se tivessem estudado em seus cursos de humanas não seriam esses boçais ignorantes. Os mais condescendentes, como vi num programa agora à noite da GNT, falam em “humildade” para “ouvir” os bolsonaristas e “desbolsonarizar o Brasil” e conseguir ensiná-los que essa ânsia moral deles nada mais é que uma “construção perversa”, uma “ausência de gozo” que eles suprem com o gozo do líder perverso delas.

Não reconhecem a voz do outro. A crença do outro. A motivação que, explicita e inequivocamente, manifestam.

Essa é a humildade do “progressismo”.

O que acontece agora nas ruas e nas estradas é o resultado de tratarem cidadãos de bem, sim, como fascistas, idiotas, perversos infinitamente moldáveis e manipuláveis, sujeitos a qualquer twist ou massacre de narrativa.

Parte deles perdeu completamente a crença em nossas instituições, e quando tomarem a terceira volta de Bolsonaro, perderão também nele.

Metade da população está profundamente revoltada e traída nesse momento, e a desmobilização da fanfarra nas estradas não encerrará isso.

Não é que vai dar merda.

Já começou a dar.

Não é o golpe (espero que não), mas é só o começo das dores.

  1. Análise perfeita! Eu sou um cristão conservador que sempre votei no PT , desde 1994 até 2020 ( apesar do paradoxo); votava no partido por causa das pautas sociais. Defendi o Lula e a Dilma, apesar de todos os prognósticos contrários, mas cansei de ser rotulado de homofobico, extrema-direita, fascista. Li os artigos da Márcia Tiburi, que afirma que se deve levantar da mesa, caso chegasse um eleitor do Bolsonaro. Não concordo com as manifestações contra a eleição do Lula, porém discordo veementemente das narrativas que os “fascistas” devem voltar para o esgoto. Percebi que a esquerda só quer saber de nós, cristãos evangélicos nas eleições, depois viramos o lixo, a escória, bando de alienados e analfabetos. Infelizmente, depois da entrevista do José Genoíno ao DCM, percebi que não ha conciliação entre os meus valores e o petismo.

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