O PDT e a negritude

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Por Caetano Portugal – Você já se perguntou o que faz uma pessoa se filiar a um partido político? Ideias, família, amigos, emprego, contratos… No meu caso, demorei pra tomar a decisão pelo PDT.

Meu pai, o professor, compositor e comunicador Jorge Portugal, de abençoada memória, foi um dos fundadores do PT. Se candidatou a deputado estadual ainda década de 1980, na fase heroica. Compôs jingles antológicos para candidatos petistas. Apresentou comícios de Lula. Chegou a ser Secretário Estadual de Cultura da Bahia. Aliás, meu nome é Caetano em homenagem ao gênio de Santo Amaro, minha terra natal; e Ignácio, em alusão a Luís Inácio Lula da Silva.

Quando comecei a cursar ciências sociais na UFBA, a maioria dos meus amigos na faculdade era petista. Boa parte, filiada e militante. Recebi vários convites para assinar a ficha do PT. Política era um tema dominante nas rodas de conversa. Não só votei, como me engajei nas campanhas de Lula e Dilma. Mas sentia falta de alguma coisa que impedia de entrar no PT. Descobri que era a resposta para a pergunta: o que os países que se desenvolveram fizeram que o Brasil não fez e precisa fazer? O PT, apesar de ter realizado boas políticas, não tinha essa resposta – como ainda não tem.

Eu tinha consciência de que por mais que um indivíduo fique rico e seja generoso, seu poder de transformação da realidade é muito limitado em comparação com um governo. Então, a política sempre foi a coisa mais importante pra mim. Li muitos livros de economia, história, teoria social. Sempre em busca de informações úteis pra pensar no desenvolvimento da minha cidade, meu estado, meu país e do mundo todo. E me incomodava acumular conhecimento e não utilizar isso na luta política que mais interessa, a que se faz através de um partido. O PSOL me parecia a melhor opção disponível, como de fato é uma das melhores. Mas também não identificava no PSOL a resposta da questão: O que falta pro Brasil dar certo?

Portanto, a razão fundamental que me convenceu a me filiar ao PDT foi o Projeto Nacional de Desenvolvimento apresentado por Ciro Gomes. Lá se vão 3 anos. Cheguei a Ciro via Mangabeira Unger, cujos livros devorei por neles encontrar soluções viáveis para os problemas sociais que nos atormentam.

De Ciro e Mangabeira li “O Próximo Passo – Uma Alternativa Prática ao Neoliberalismo”. Virei um pregador dessas ideias. Passei a prestar atenção nas palestras e entrevistas de Ciro. Pesquisei sua biografia. E constatei, impressionado com o imenso conhecimento e a experiência dele, que não temos nenhum outro político tão preparado quanto Ciro para presidir o país e fundar de um novo projeto de desenvolvimento brasileiro, que quebre as amarras da dominação financeira e priorize o investimento na maioria das pessoas que quer estudar, trabalhar e produzir. Assinei a ficha do PDT, abonada pelo saudoso Alexandre Brust, em dezembro de 2018, depois de uma ardorosa campanha pela candidatura de Ciro nas eleições daquele ano.

Além do projeto nacional, entretanto, outra razão me levou ao PDT. Eu sou negro. E o PDT é o partido Abdias Nascimento, o maior líder negro do Brasil no século 20, que chegou a ser senador. O PDT é o partido de Lélia González, a mais importante feminista negra brasileira do século 20. O PDT elegeu os primeiros governadores negros do país: os grandes Alceu Colares, do Rio Grande do Sul e Albuíno Azeredo, do Espírito Santo. O PDT é o partido de Carlos Aberto Caó, o deputado federal, negro e baiano, autor da lei que definiu os crimes de racismo no Brasil. O PDT, enfim, é um partido que tem a luta negra como um dos seus compromissos básicos, assumido no estatuto.

O meu partido, sim, tem problemas. Temos um processo pouco democrático de tomada decisões, como todos os outros. Baixa representatividade de negros, mulheres e pessoas LGBTQIA+ nos cargos de liderança, como todos os outros. Temos quadros não alinhados com os princípios e o projeto do partido – nesse caso, a maioria dos partidos brasileiros não têm propriamente princípios e muito menos projeto. Mas nos esforçamos para corrigir nossos erros. E considero que a desfiliação de Tabata Amaral, depois de votar a favor da Reforma da Previdência perversa e antipopular de Bolsonaro, é um símbolo da correção que buscamos e que lava nossa alma neste aniversário de 41 anos do Partido Democrático Trabalhista.

Por tudo isso, pelo projeto nacional, pela luta por igualdade racial, me filiei ao partido fundado pelo grande brasileiro Leonel Brizola. O partido de Darcy Ribeiro e da linhagem de Guerreiro Ramos. Do legado não superado de Getúlio Vargas e da escola em tempo integral. O partido de Carlos Lupi.

O partido, afinal, de Ciro Gomes, que plantou a semente de um novo Brasil, projeto que já floresce com exuberância no solo fértil do nosso sonho, inspirando cada vez mais corações e mentes da Turma Boa a arregaçar as mangas e lutar para que o nosso país possa brilhar em todo o seu esplendor, no olhar e no sorriso de cada criança, cada jovem, cada mulher e cada homem comum. Viva o PDT! Viva o Trabalhismo! Viva o Brasil!

Por: Caetano Portugal.
Sociólogo, comunicador e diretor da Secretaria do Movimento Negro do PDT-BA.