O impeachment esfria; o PT vibra, a oposição patina

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A carta de Bolsonaro jogou um balde de água fria no impeachment. Apesar de sacramentar o fim do governo, o movimento palaciano retirou da pauta nacional a necessidade urgente de impeachment. Michel Temer, especialista em impeachment e tutelador oficial de incapazes, tratou de amansar o vira-lata do Palácio do Planalto. Há a grande hipótese de Bolsonaro ter assinado a carta sem lê-la, poupando-lhe o esforço de não entender o que ali estava escrito.

O recuo presidencial é provavelmente o maior da história brasileira. Após convocar seus asseclas – caminhoneiros revolucionários, pastores “171” e seus marqueteiros da Jovem Pan-, Bolsonaro teve que se viabilizar, largando seus companheiros aos desmandos de Alexandre de Moraes, a quem carinhosamente chamou de “grande jurista”, após chamar de “filho da puta” dias antes. Não que ambas as coisas não conversem, aliás, bons juristas normalmente são bons filhos da puta.

A primeira reação dos caminhoneiros foi o delírio, comemorando golpes imaginários. Em seguida, a liderança máxima, o futuro deputado e atual presidiário “Zé Trovão”, foi às redes atônito, tentando apelar para a sensibilidade presidencial. Apelar à sensibilidade de Bolsonaro é realmente desesperador. Mais fácil fugir pro México, arriba!

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Lula está em festa. Com sua plataforma de governo calcada em privatização, coxa grossa e pinto murcho, o ex-presidente nada de braçada rumo à vitória em 2022. Com a inflação corroendo o salário do Brasileiro, a promessa vazia de retorno ao passado parece cada vez mais factível. É o “make Brazil great again”, só que ao invés do patrão, temos o sindicalista. A engrenagem do liberalismo é sempre sofisticada – e sem preconceitos.

A ausência do PSB e de setores expressivos do PCdoB nas mobilizações de domingo já deram o tom: Lula pacificou sua base. Seja plantando seu preposto Flavio Dino no mundo pessebista, ou ainda contando com a benevolência de Marcelo Freixo, cujo interesse ao governo carioca o impede de ir contra os desmandos lulistas. A esquerda-petista irá com Lula, qualquer ilusão fora disso é voluntarismo. O único corajoso homem a ir contra as vontades do coronel de São Bernardo foi Guilherme Boulos, que altivo como só ele, tratou de cravar sua candidatura ao governo do Estado, contra uma mambembe tentativa do PT em implacar o poste uspiano, Fernando Haddad.

O fracasso numérico dos atos de domingo deram mais força à narrativa oficial dos revolucionários de Antonio Palocci. Apesar de terem fracassado em sua última manifestação, mês passado, a expectativa petista é alta para os próximos atos. A ordem do Antonio Conselheiro de Garanhuns é abrir o cofre. A última vez que ele fez isso a Odebrecht comprou o congresso inteiro. Dessa vez, o máximo que pode acontecer é juntar alguns milhares de companheiros atraídos pelos 30 reais pagos na porta do Metrô Brigadeiro – ou pelas coxas do ex-presidentes. O limite do Brasil está entre as pernas de Lula, com uns trocados pendurados na sunga.

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Apesar do aparente fracasso numérico, as manifestações do dia 12 trouxeram uma nova linguagem aos protestos brasileiros. Com bandeiras que iam do PCdoB ao MBL, passando pelo PDT e RenovaBr, jovens de branco tomaram as ruas sob a unica bandeira unificadora da democracia. Para muito além dos xavões de comunicação em massa, a jornada do dia 12 traz consigo uma tradição de diálogo e tolerância, predicados que serão muito caros aos brasileiros que quiserem reconstruir o país, para além do continuísmo assassino ou a volta ao passado.

O esforço da esgotosfera petista em atacar os atos do dia 12 lembrou o episódio Marina Silva. Ataques concentrados, mentiras, calúnias e esforços de desmobilização diversos. Os blogueiros-serviçais do Centro do Mundo(Dê-Sê-M) chegou a acusar Renan Santos de estuprador, Ciro de corrupto e fascista e demais delírios. Faltou somente a declaração de Lula “ELEIÇÃO SEM BOLSONARO É GOLPE”.

O MBL, na tentativa de ser a juventude do Centro, fez a lição de casa. Cumpriu acordos, maleabilizou o discurso, respeitou adversários históricos e soube portar-se enquanto anfitrião. Essa postura é fruto do esforço de seu líder, Renan Santos, em tirar do grupo a pecha de radicais. Se antes o movimento chamava Mandela de “terrorista” e Bill Gattes de “comunista”, agora os mesmos achincalhadores abraçam comunistas e dividem copos de cerveja com getulistas. A decisão é sabia: há de ter um polo aglutinador liberal anti-bolsonarista para o dia seguinte da derrocada do capitão. Quem chegar primeiro beberá água limpa. Se ainda houver água para beber.

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No último texto deste espaço, foi dito por este escriba que “se você quer saber antecipadamente de algum movimento em Brasília, sempre pergunte ao Kassab”. Pois bem, o mesmo Kassab da semana passada declarou na manhã desta terça feira que “não há mais preocupação com impeachment”. Então esqueçam impeachment. Entreguemos a faixa a Lula, a Caixa Econômica ao Geddel, Furnas ao Eduardo Cunha, Ministérios e passaportes diplomáticos ao Crivella.

O Brasil encontrará seu rumo, com “socialistas morenos” liberalóides, com a zona sul feliz em poder falar seus pronomes neutros enquanto o povo morre de fome e louva Edir Macedo.

É terceira via ou barbárie. Fora disso, só o passado.