O diabo veste farda

O diabo veste farda
Botão Siga o Disparada no Google News

Por Eduardo Papa – A TROPA DE OCUPAÇÃO imposta pelos militares no Ministério da Saúde, atualizou minhas definições quanto a corrupção. Até a atuação do Gen. Pazuello e seus coronéis na pasta, eu considerava que desviar recursos da merenda escolar, metendo o garfo no prato de crianças pobres, era o que de mais abjeto podia ser feito, mas deixar as pessoas morrendo dessa doença horrível enquanto negociam propina para a compra de imunizantes, dificultando a compra com empresas fora do esquema é o auge!

MILTARES CULTIVARAM no período em que estiveram fora do poder uma imagem de “guardiões da moralidade”, fakenews! Na volta ao poder foram com toda sede ao pote, uma nuvem de gafanhotos verde oliva assolou o Planalto, compondo com o que há de mais podre na política nacional, como esse Ricardo Barros por exemplo, em um mar de lama que faz com que os “mensalões” e as malas de dinheiro do Gedel Vieira Lima pareçam coisa de ladrão de galinha.

SELVA! O grito de guerra que costumam bradar, deve ser o mato sem cachorro em que meteram o povo brasileiro. O Gen. Villas Boas ameaçou a nação com 300 mil soldados para garantir o sucesso do “lawfare” e chegar ao poder, no governo em que 15 dos 17 componentes do comando das FA no período anterior, ocupam cargos de ministro ou de primeiro escalão no governo, demonstrando que não fazem tanta falta assim na defesa da selva (que sob sua guarda arde em chamas), pois que milhares de oficiais largaram seus postos na defesa da nação para locupletarem-se em cargos civis, sem que haja qualquer registro de que façam falta nas fileiras.

A DITADURA MILITAR em 1964, acabou com a soberania nacional e trouxe miséria, fome e morte para o nosso povo, garantida pela repressão. O atual governo parece tentar um “remake” dos tempos mais tenebrosos de nossa história recente. Uma política econômica cruel concentradora de renda, temperada com arroubos de autoritarismo e a volta da submissão canina aos EUA.

O EXÉRCITO BRASILEIRO cobriu-se de vergonha quando seu comandante aceitou a indisciplina de Pazuello, ganhando dias depois a mais alta condecoração da corporação, que entrou no perigoso caminho de se transformar em um puxadinho da milícia.

O GOLPE MILICIANO que vem sendo urdido praticamente às claras por Bolsonaro, que já teve até ensaio geral ano passado no Ceará, conta com frequentes manifestações veladas de apoio de militares de alto escalão, com o bordão “estão esticando a corda”. Uma demonstração de audácia, essa clara ameaça a democracia, é cada vez mais recorrente e transborda para os escalões inferiores, haja visto o recorrente comportamento dos nossos “guardas da esquina”.

A MÃO AMIGA parece estendida apenas para uma pequena parte dos brasileiros, a plutocracia que nos governa estruturalmente, para o povo em geral o tratamento parece ser o mesmo destinado aos manauaras que morreram em grande agonia asfixiados, implorando acesso a leitos de UTI disponíveis no hospital do exército.

JÁ O BRAÇO FORTE paira como uma espada de Dâmocles sobre nossas cabeças, ameaçadas cada vez mais efetivamente pelo retrocesso político e cerceamento da liberdade (lei antiterror em tramitação por exemplo). A nossa “classe média” parece não perceber que a matança generalizada de pretos e pobres das periferias vai chegar nela (parte inclusive apoia e pede entusiasticamente). Quanto tempo essas corriqueiras ameaças de morte a artistas, intelectuais e opositores vão demorar a se concretizar? Das polícias impregnadas pelas milícias só podemos esperar no mínimo a leniência, quiçá conivência. E a força armada que pagamos para nos defender o que fará? Uma churrascada?

NOSSA PÁTRIA está em ruínas, o povo padece de fome, as matas ardem em chamas, a peste se espalha ceifando vidas e a ameaça de um infortúnio ainda maior se avizinha, a destruição do tantinho de democracia que conseguimos construir após a constituição de 1988. A ameaça é efetiva e grave, o fascismo vem sendo implantado em marcha acelerada, suas perspectivas de triunfo final parecem começar a se frustrar com a exposição da bandalheira em que os golpistas se meteram. Mas o temor do insucesso e das consequências que deste adviriam, pode servir como elemento para reforçar a determinação daqueles que já estão com a lama até o pescoço. Se terão sucesso ou não, agora depende mais de nós do que deles.

Por Eduardo Papa, jornalista, professor e artista plástico.