O dever dos democratas

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Por Christian Lynch – O bolsonarismo é um sistema político populista ideologicamente reacionário que, a partir de plataformas digitais, dissemina seu negacionismo estrutural e incentiva sem trégua comportamentos antissociais baseados na confrontação violenta dos críticos e adversários, com ramificações nos aparatos repressivos da sociedade, oficiais ou clandestinos.

Em outras palavras, um neofascismo high tech.

O objetivo prioritário de Bolsonaro nesse primeiro mandato não é administrar coisa alguma, mas explorar os imensos recursos do Estado – dinheiro, cargos, privilégios – para criar pelo clientelismo mais escandaloso uma base permanente de apoio social ao seu “partido familiar”.

A prioridade conferida a essa política clientelista agressiva de cooptação e fidelização de aliados – emissoras, empresários, corporações militares, deputados e senadores, juízes etc – produz, claro, um governo que desempenha horrorosa e criminosamente em matéria administrativa.

Daí a importância do negacionismo estrutural disseminado pela propaganda oficial e oficiosa. Trata-se de um mecanismo de ocultação da realidade de seu péssimo governo, baseado na deformação global da realidade pela mentira e na poluição do debate público com falsas polêmicas.

Se os recursos do Estado são essenciais para os propósitos de enraizamento social de Bolsonaro, o governo propriamente dito é um problema. Por isso, ele está sempre tentando ganhar tempo para garantir impunidade pelos crimes que comete para atingir aquele fim e sobreviver até a eleição seguinte.

Bolsonaro tenta ganhar tempo para explorar o máximo que poder dos recursos do Estado empregando dois expedientes. O primeiro é neutralizando quem pode responsabilizá-lo por seus crimes e apeá-lo do poder. O leilão da vaga de ministro do STF neutralizou a PGR, que virou instrumento de sega interesses.

O outro mecanismo foi alugar o Centrão na Câmara e neutralizar seu presidente, impedindo a abertura do processo de impeachment. Também esse bloco parlamentar quer ganhar tempo para que mame à vontade nas tetas do governo por mais um ano e vencer a eleição parlamentar do ano que vem.

Se não houver abertura do processo de impeachment nos próximos três meses, o objetivo mais premente de Bolsonaro terá sido atingido, porque ele sairá do horizonte de possibilidades e ele ganhará mais um ano para dilapidar o Estado em benefício de sua família e será aliados.
Ganhar tempo até a próxima eleição é o objetivo tático de todo o bloco de poder que sustenta Bolsonaro. Não há outra opção aos opositores do que reunirem-se estrategicamente em coalizão de veto, deixando divergências em segundo lugar para apoiar o trabalho de reconstituição dos fatos efetuado pela CPI e pressionar o sistema de fora pra dentro.

Imprensa, partidos, sindicatos, movimentos sociais, sociedade civil, celebridades, irmanados pela defesa da saúde e da democracia, têm que deixar de lado as divergências e investir tudo o que puderem daqui por diante.

É dever de todos os democratas ensaiar essa aliança para, primeiro, evitar essa vitória tática do governo na busca por ganhar tempo. Em segundo lugar, caso não seja possível, buscar o mínimo de atrito e o máximo de convergência em torno de um candidato de oposição no ano que vem.

Por: Christian Edward Cyril Lynch.