Tava aqui lendo sobre a história do Reino Unido. Saíram da Segunda Guerra Mundial com dívida pública de mais de 200% do PIB. Imagina se naquela situação, o país fosse comandado por algum ventríloquo de banqueiro, do estilo Samuel Pessoa?
O povo britânico, fastigado por anos destrutivos de guerra, tendo que aguentar ainda mais sofrimentos e privações, devido à necessidade “científica” de corte profundo nos gastos públicos. O país provavelmente entraria em colapso interno.
Ao invés disto, o Reino Unido resolveu apostar todas as fichas na construção de uma infraestrutura social de fazer inveja a muitos socialistas, elevando gastos públicos e criando um dos maiores orgulhos nacionais: o National Health System.
O país, afinal, era comandado por estadistas – à direita e à esquerda houve este consenso -, com profundo conhecimento de história, política, e amor ao seu país; não por startupeiros riquinhos graças à especulação financeira, gente socialmente desenraizada, sem qualquer espírito nacional-popular, com prazer em cortar benefícios para idosos e desempregados.
O que ocorreu? A dívida diminuiu ao longo do tempo porque o país conheceu décadas de crescimento. Pois é, na relação dívida/PIB, é possível apostar no crescimento do denominador em vez de arranjar pretexto pra ferrar com os pobres e desassistidos.
Na época, o Partido Conservador tinha sensibilidade social suficiente pra entender isto, com exceção de uns mais extremistas — talvez pela existência de uma URSS forte e com prestígio, aliada ao fracasso retumbante do liberalismo nos anos anteriores, pré e pós crise de 29.
Hoje, se você defende estas posições, é tido como maluco. Tempos trevosos.
PS: No Brasil, principalmente. No resto do mundo, inclusive nos EUA, a posição fiscalista hardcore dos economistas ortodoxos é cada vez mais e mais contestada, por gente do próprio mainstream inclusive, vide Olivier Blanchard e Lawrence Summers. Prova do “cosmopolitismo-provinciano” de nossos liberais, como definiria bem o Luiz Gonzaga Belluzzo.
