A narrativa burguesa sobre o ludismo

A narrativa burguesa sobre o ludismo
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Volta e meia aparece um comentário falando de “ludismo”. A noção geral é que os trabalhadores burros e mal-informados não entendiam nada, achavam que as máquinas eram culpadas pelo desemprego, exploração e condições de trabalho e por isso quebravam as máquinas. TUDO ERRADO.

Estamos falando do INÍCIO da Revolução Industrial, com processos industriais simples, sem necessidade de força de trabalho especializada, sem sindicatos organizados e fortes, sem partidos operários organizados e numa condição geral de mais força de trabalho que empregos.

Pelas condições jurídicas, políticas, econômicas e sociais do período, era muito fácil para um industrial frente a uma greve ou protesto, demitir todo mundo pela manhã, contratar novos trabalhadores no almoço, ter um treinamento rápido e a fábrica funcionar de tarde.

Quebrar a máquina, ou a simples ameaça de fazê-lo, era um dos meios mais eficazes de protesto operário numa época sem direito de greve, sem sindicatos e sem partidos operários organizados. Tinha nada de irracional. Fazia muito sentido lógico e prático.

Um burguês sente no bolso com a paralisação da produção. Como parar a produção se era possível, em menos de 24h, substituir toda força de trabalho de uma fábrica e garantir seu funcionamento? Quebrar uma máquina era a única garantia segura, na época do ludismo, para isso.

Que o movimento operário, numa fase posterior, com a organização dos sindicatos, faça a crítica da tática de quebrar máquinas e destaque a necessidade da organização coletiva para reivindicações permanentes, é compreensível.

Agora pessoas de esquerda repetirem a narrativa burguesa que os trabalhadores do começo da revolução industrial eram burros, não entendiam nada, quebravam as máquinas por confusão e não compreendiam o “progresso”, isso sim é difícil de entender.

PS: É lógico que os operários, arrancados do meio rural, tinham relação de estranhamento/maravilhamento com o novo ambiente urbano e com as máquinas. Os mitos e irracionalismo dessa nova relação não negam ou anulam o sentido prático e racional da tática ludista.