O petismo autofágico

O petismo autofagico
Botão Siga o Disparada no Google News

O governo Lula oficialmente começou. Depois do presente dado pela intentona bolsonarista – que promoveu o governo à guardião máximo da democracia – as contradições saíram do armário, juntamente com as disputas públicas. Diversas figuras chave da esplanada ministerial experimentaram o bafo quente dos que sentiram-se prejudicados na divisão do quinhão.

Ainda no começo do mês passado, o Ministro da Previdência, Carlos Lupi, foi vítima da ação orquestrada do ministro Rui Costa, que a com ajuda dos insuspeitos editoriais de jornalões paulistas, resolveram virar artilharia ao trabalhista – que apenas defendeu as sabidas posições históricas de seu partido. Ora, se o governo não concordava com o trabalhismo de Lupi nas questões previdenciárias, por qual motivo o colocaram ali?

Logo depois, a máquina de moer reputações virou-se ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad – o mais novo queridinho da Faria Lima. Gleisi Hoffman, que não gosta do paulista (por medo de sua influência com o presidente), foi ao ataque público, expondo um companheiro que – apesar dos apesares – sempre se mostrou com fidelidade canina. As declarações públicas da presidente mostram que a “união pela democracia” era apenas um slogan de campanha. Nem o próprio PT está de fato unificado.

O tratamento de choque não é só fratricida. As mídias do regime, antes denominadas de “blogueiros progressistas” (ZzZzzZzZ), desde o início, nutriam a ilusão de que Lula os contemplaria pelos serviços prestados, dando-lhes alguma migalha do Ministério das Comunicações. Como o presidente é profissional do ramo, tratou logo de botar-lhes no cercadinho que lhes é de mérito. Os ataques começaram. O mandatário da pasta sobrevive no cargo – mesmo enrolado até os dentes com tudo que não presta.

O último a sofrer o fogo-amigo foi o ministro de Direitos Humanos, Silvio Almeida. Em artigo completamente aloprado no Brasil 247, o jornalista Joaquim de Carvalho – conhecido pela teoria da conspiração em que defendia uma tese arrazoada sobre a facada em Jair Bolsonaro -acusou Silvio de permitir “abusos” supostamente cometidos contra o lunático Adélio Bispo. O artigo é mentiroso. Quando chama de “decisão burocrática”, esquece que o ministro apenas cumpriu o império da lei. Quando diz que o ministério “enviou para outro órgão”, esquece que a ouvidoria também faz parte do ministério em questão. Em outro artigo, que antes circulava na imprensa, o leitor era levado a crer que Silvio defendeu a independência das áreas indígenas, quando na verdade defendeu o contrário: a participação do Estado Brasileiro na vida das populações originárias. Obviamente foram textos encomendados, que não tratam momento algum de direitos humanos. São apenas peças de propaganda da guerra cultural, que tão bem faz aos setores governistas com interesse em manter a polarização viva.

Lula não terá paz enquanto não enquadrar seus subordinados, que como cães ao sentirem o gosto de sangue, rondam as carnes frescas em busca de uma brecha para morder. Se não forem domesticados, só irão parar quando putrefato for a carniça a ser devorada. Ou seja, quando mortas estiverem suas presas.