Sobre o marxismo ocidental

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O debate sobre o marxismo ocidental enquanto uma conformação específica do marxismo é longo, antigo, com vastíssima produção e bem fundamentado. Não é caricatura de internet. Envolve Perry Anderson, Merleau-Ponty, Losurdo, Marcuse, Sartre etc. Na leitura de Domenico Losurdo, a conformação específica do marxismo ocidental é produto de condições materiais, políticas, geopolíticas e ideológicas específicas. Me parece óbvio que o marxismo de um país central do capitalismo não será igual a de uma colônia.

A realidade concreta da luta de classes na China era bem diferente que na França. O argumento de Domenico Losurdo é que o marxismo produzido na Europa Ocidental teve dificuldades de entender a configuração específica da luta de classes nas colônias, semicolônias e países dependentes. Um exemplo básico. Para o movimento operário francês a questão era enfrentar o Estado burguês. Para o movimento revolucionário na China, era derrotar o Estado colonial criando um poder político nacional e revolucionário. São tarefas diferentes que envolvem teorias, política de alianças, formas organizativas, estratégias e táticas diferentes.

No marxismo da China, Coreia, Vietnã, Cuba, Índia, Burkina Faso e afins, o peso da questão nacional não era por causa de uma melhor compreensão intelectual desse debate, mas pela imposição da realidade objetiva da luta de classes, da forma de ser do capitalismo periférico. Também me parece óbvio que num país colonizado a questão nacional assume forma e conteúdo diferente que num país central do capitalismo.

O argumento de Losurdo, ao meu ver irrefutável, é que o marxismo ocidental teve problemas em entender o capitalismo em sua totalidade e tendeu a universalizar as condições centrais do sistema, desconsiderando a especificidade da luta de classes na periferia do capitalismo. Isso não significa que os marxistas ocidentais, como os nomes da Escola de Frankfurt, nunca falaram das lutas na periferia do sistema ou do colonialismo. Uma citação de Adorno não nega ou refuta a crítica de Domenico Losurdo. Losurdo também não fazia crítica fácil.

Losurdo nunca disse que era “tudo ruim”, para não ler ou que não existia contribuições no “marxismo ocidental”. Quem faz isso, faz caricatura por sua conta e risco. Losurdo nunca deixou de fazer diálogos críticos e produtivos até com Hannah Arendt, quanto mais com marxistas.

De resto, embora eu concorde com vários diagnósticos do meu amigo Elias Jabbour, já lhe disse que o argumento dele do “Hegel banido do Ocidente” é insustentável. Não da para dizer isso tendo Escola de Frankfurt, Fanon, Lukács, Karel Kosík, Alexandre Kojève etc. etc. etc. Ainda friso que nesse ponto, diferente de Domenico Losurdo, Elias descoloca o tema para uma dimensão intelectual, de bagagem cultural e não condições objetivas diferenciadas da luta de classes – embora Elias também toque nesse aspecto. Seu argumento sobre Hegel é dele e não de Losurdo.