Médici, Bolsonaro e os absorventes íntimos

Médici, Bolsonaro e os absorventes íntimos
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A falta de acesso das mulheres mais pobres a absorventes íntimos é preocupante e demanda ação estatal para ser resolvida, como todo problema social. Ou o Estado cumpre a sua função protetora da sociedade ou não tem razão de ser.

Por outro lado, a distribuição gratuita de absorventes, nos termos propostos pela medida vetada pelo Bolsonaro, tem por objetivo usar o Estado para capitalizar a P&G, que, por coincidência, é uma das patrocinadoras da Girl Up, que, através do movimento Livre para Menstruar, encabeça o ativismo contra a “pobreza menstrual”.

Essa seria mais uma oportunidade para colocar em pauta a recriação da Central de Medicamentos (CEME), criada em 1971, no governo Médici para integrar os laboratórios farmacêuticos nacionais, estatais e privados (estavam excluídos os estrangeiros) na produção e a distribuição gratuita de medicamentos à população de baixa renda. Não sei se absorventes femininos estavam incluídos no rol de atuação da CEME, mas nada impede que fossem incluídos hoje numa eventual recriação.

A CEME era possível devido a uma lei de Getúlio Vargas que proibia patentes de medicamentos, ratificada no governo Médici. Quando FHC derrubou essa lei e reconheceu as patentes de medicamentos, encerrou a CEME e desarticulou o setor farmacêutico nacional.

“Ah, Felipe, a CEME não vai voltar, as mocinhas precisam de absorvente agora, não temos tempo para pensar nessas questões”. Aceito o argumento, muito realista.

Mas eu pergunto: por que nos tempos do torturador Médici o Brasil conseguia pensar e fazer uma medida do tipo e hoje, com tantos democratas finos, elegantes e sinceros, não consegue sequer conceber a possibilidade? O que aconteceu?