É impressionante a insistência do PT no esforço de convencer Gilberto Kassab a fornecer um vice do PSD para Lula, e a resistência do ex-prefeito de São Paulo às seduções petistas.
Bela Megale informa n’O Globo que petistas estão oferecendo para Kassab uma alternativa a Alckmin como vice pelo PSD para selar o apoio do partido: o presidente da FIESP e dono da COTEMINAS, Josué Gomes, que é filho de José Alencar, o vice de Lula de 2003 a 2010. Josué Gomes assumiu a FIESP recentemente após a decadência do longo reinado de Paulo Skaf, e diz que não pretende disputar eleições. Já o presidente do PSD nega a intenção de indicar um vice de Lula.
Kassab filiou o presidente do Senado Federal, o senador por Minas Gerais, Rodrigo Pacheco, que era do DEM (e vai virar União Brasil na fusão com o PSL) e o lançou como pré-candidato a presidente do PSD. Em São Paulo, Kassab desejava filiar o ex-governador Geraldo Alckmin para disputar o governo estadual contra o vice de Doria do PSDB, o ex-aliado dos tempos de PFL/DEM, Rodrigo Garcia. Quem não lembra do jingle “Quem sabe, sabe, vota comigo, federal é Kassab, estadual é Rodrigo”?
Alckmin candidato a governador pelo PSD, poderia repetir a chapa com Márcio França do PSB, e seriam favoritíssimos contra o decadente PSDB na mão do aventureiro Doria.
Mas no meio do caminho, Lula enfeitiçou Alckmin e Márcio França com um canto de sereia de indicar o ex-governador e ex-tucano à vice na chapa presidencial pelo PSB. França achou que a candidatura ao governo com apoio da chapa Lulalckmin cairia no seu colo. Chama atenção como políticos experientes continuam sendo enganados por Lula.
O PT, como já expliquei em “Lula fecha com PSB pernambucano, mas frustra Flávio Dino e Márcio França“, nunca vai abrir mão de candidato próprio em São Paulo. Boulos que o diga. Com a manobra de convidar Alckmin para ser seu vice, Lula tirou da disputa regional o favorito nas pesquisas para o governo estadual, e de quebra exigiu dos donos do PSB lá em Pernambuco que Márcio França também retire sua candidatura para abrir caminho para Fernando Haddad.
Além disso, Lula não está nem aí para Alckmin como candidato a vice pelo partido de Márcio França, pois o PSB ele já tem. O que Lula quer é que Alckmin vá para o PSD ser seu vice para sacramentar a aliança com o partido do ex-prefeito de São Paulo, e não como governador como Kassab desejaria.
Mas o presidente do PSD é muito mais sagaz e precavido que Márcio França e que o próprio Alckmin, que foi com muita sede ao pote e pode acabar sem nada. Diante da manobra petista, Kassab descartou a filiação tanto do ex-governador de São Paulo como do atual presidente da FIESP e insiste na pré-candidatura de Rodrigo Pacheco para manter sua independência no primeiro turno, e ainda mandou recado duro: “O PSD não é barriga de aluguel“.
Pode até ser que Kassab acabe compondo com Lula devido seu amplo favoritismo nas pesquisas eleitorais, pois como disse Ciro Nogueira: “O Kassab é a pessoa mais solidária ao inevitável“. Porém, caso o PSD termine por apoiar o PT ainda no primeiro, isso só será decidido no último minuto das convenções partidárias às vésperas da eleição, e a um preço estratosférico.
Ao contrário de Geraldo Alckmin, Márcio França, Guilherme Boulos, e dos dirigentes de PSB, PSOL, PCdoB, Rede, etc., Gilberto Kassab sabe que Lula e o PT não são famosos por serem cumpridores de acordos, ainda mais tão cedo assim no calendário eleitoral. Kassab enxerga lá na frente.
Em um possível terceiro mandato de Lula, o PSD certamente será base de governo e vai ocupar espaços ministeriais, mas isso é diretamente proporcional ao tamanho do partido no Congresso Nacional, e tanto maior a sua capacidade de dizer não a Lula, maior a disposição do PT de atraí-lo com nacos de poder. Já no relacionamento abusivo com os aliados “incondicionais”, o PT não precisa dar mais do que o mínimo existencial, e mesmo assim, negociado palmo a palmo de acordo com a subalternidade exigida.
