Por Breno Frossard
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor”, Lucas 4:18,19.
Essa passagem da bíblia deixa bem claro a intenção de Jesus ao pegar as boas novas, principalmente aos necessitados e oprimidos. Além disso no evangelho de Lucas 16:13, Cristo diz que não podemos servir a dois senhores, e alerta sobre fazermos do dinheiro um Deus.
Jesus: De esquerda ou direita?
É comum escutarmos uma politização da figura de Jesus Cristo, alguns tentam o empurrar para uma esquerda socialista, outros para uma direita liberal, mas a verdade é que não existia, e nem estava perto de existir, os conceitos políticos de hoje em dia na época da vida de cristo, mas alguns fatos podem ser pontuados:
Cristo sempre defendeu os mais pobres e condenou o acumulo de riquezas e a desigualdade social; (Mt 19:23,24);
Cristo condenava o acumulo de terras, a grilagem e defendia um modelo semelhante, na época a uma reforma agraria; (Dt 27,17);
Cristo atacou e foi morto pelas elites e combateu o imperialismo em sua época; (Mt 23:1-36);
Cristo agiu diretamente para impedir que os templos fossem mercados; (Mc 11:15-18);
Que Cristo tinha uma visão aos mais pobres e humildes e pregava uma justa distribuição de renda não há dúvidas, porém o erro da esquerda é achar que isso era o suficiente para jogar Jesus em uma posição política a qual sequer havia sido criada. Porém se estudarmos a origem do Socialismo, antes de Karl Marx e Friedrich Engels, vamos chegar a grandes cristãos que desenvolveram a teoria socialista, e que por muitas vezes, ajudavam a emancipar a classe operária através do espaço religioso.
Engels diz que “A história do Cristianismo primitivo tem notáveis pontos de semelhanças com o movimento moderno da classe operária. Como este, o Cristianismo foi em suas origens um movimento de homens oprimidos: no princípio apareceu como religião dos escravos e dos libertos, dos pobres despojados de todos os seus direitos, dos povos subjugados ou dispersados por Roma.”.
A grosso modo isso quer dizer que durante muito tempo o cristianismo foi o movimento teológico responsável pela emancipação dos operários e até de escravos, servindo como um braço aliado dos movimentos operários.
Existe Socialismo Cristão?
O termo Socialismo Cristão é um termo amplo. Se consideram Socialistas Cristãos desde Marxistas que enxergam o mundo sob uma ótica cristã até reformistas e moderados que seguem a encíclica “Rerum Novarum”. Essa Encíclica que é considerada um marco para o Socialismo Cristão alega que deve haver uma conciliação entre as vontades e direitos da classe operaria e o respeito a propriedade particular e privada. Dentro do meio Cristão existe o debate sobre o Socialismo. Uma parcela afirma que a ideologia Socialista prega o ódio a determinada classe social, sendo isso um pecado. Entretanto, a própria sacra escritura condena a usura e o acumulo de bens materiais.
O movimento Marxista-Leninista e Socialista revolucionário acaba soando agressivo quando aponta que apenas com revolução armada e derramamento de sangue atingiremos o Socialismo. Sob uma visão cristã, esse argumento é incorreto, pois nós, cristãos, devemos defender acima de tudo a paz concedida por Deus e buscar solução democráticas e pacificas, o que não deve ser confundido com aceitar sem nenhum tipo de reação a opressão e injustiças, pois até perante de momentos repressivos cristo agiu diretamente e foi resistência a tais ataques.
Portanto, os cristãos devem separar momentos em que pegamos em armas, como durante o regime de 1964 em que muitos cristãos foram perseguidos de momentos como o de agora. Há uma grande diferença entre lutar pra se defender e lutar por aventuras sem sentido de radicais socialistas sem noção de realidade.
O que é ser um Socialista Cristão?
O Socialismo Cristão é uma ideia Socialista diferente da que se tem hoje. Para compreender o Socialismo Cristãos devemos compreender o conceito de Distributismo, o qual tem por base cooperativas, economia solidaria e sociedade com bens comuns e fraternidade social. Além disso, a defesa de uma reforma agraria, urbana e tributária que venha a estabelecer igualdade e condições mais humanas aos trabalhadores.
O que a esquerda brasileira tem a aprender com o cristianismo?
Se os socialistas e o cristãos tem um movimento de origem tão semelhantes, por que o movimento cristão hoje é maioria no mundo enquanto o movimento socialista declina cada vez mais? A resposta é simples, o cristianismo soube se enraizar e mobilizar o credo popular de uma forma que a esquerda sequer cogitou. Através de instauração de comunidades e ação direta junto as famílias necessitadas. Além disso, mesmo após momentos tensos e de discordâncias políticas e teológicas, os cristãos souberam realizar autocriticas, reconhecer seus erros e seguir com suas doutrinas, coisa que parece cada vez mais difícil na esquerda, especialmente brasileira.
Socialismo Cristão no Brasil
Com exceção de alguns teólogos, especialmente de corrente Católica e Luterana, não há um movimento cristão de esquerda relevante no Brasil. Destaca-se Padres que são símbolo de resistência como o Pe. Leonardo Boff e Pe. Júlio Lancelotti, além disso alguns Luteranos como o Pr. Mozart Noronha, que alegou em 2018 que as igrejas que se aliaram ao Presidente Jair Bolsonaro (PL), deram as mãos ao diabo.
É dever dos cristãos progressistas construírem uma força política suprapartidária, cristã e socialista que venha a defender os princípios teológicos do cristianismo, bem como o socialismo e que sirva de resistência a ofensivas conservadoras.
Por Breno Frossard, Seminarista Luterano de Teologia e militante do PDT
