Stephen Kanitz: As ideias econômicas de Ciro Gomes

Stephen Kanitz As Ideias Econômicas De Ciro Gomes
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Prometi analisar as ideias econômicas de Ciro Gomes para termos uma ideia mais geral do seu currículo, ética e postura econômica desse candidato.

É aqui onde o carro pega para Ciro Gomes.

Existem 4 Ciro Gomes por aí, e duro é saber qual o verdadeiro.

Tem o Ciro Gomes quando fala para Centros Acadêmicos de Universidades, quando todo mundo é canalha, quando ele solta as frases de efeito, quando ele é neodesenvolvimentista.

Quando ele fala para empresas e empreendedores ele parece mais sensato e menos radical.

Foi numa destas palestras que Ciro Gomes chamou minha atenção positivamente, e por isso fui investigá-lo um pouco mais, o que a maioria não está fazendo.

Não estou endossando Ciro como muitos apressadamente estão pensando, simplesmente estou pensando em voz alta, para vocês pensarem também.

A frase que me levou a fazer esse exercício foi sua pergunta “Qual o problema número 1 deste país?”.

Pense um pouquinho antes de começar, e uma dica, é algo que venho dizendo há mais de 30 anos.

Nenhum outro político ou economista famoso tem essa visão.

“O problema deste país é que as empresas não têm fontes de financiamento a longo prazo, por isso não crescemos há anos, por isso poupamos somente 15% do PIB em vez de 25%.”

“Nosso problema é o sistema de previdência por repartição socialista, em vez de um sistema de acumulação solidária.”
E apresenta uma proposta de transição, que ninguém até hoje propôs. (Nossas “reformas” foram somente de postergação não de solução definitiva).

Uma outra frase que me impressionou foi “não sou contra as privatizações, eu sou contra o uso da venda em despesas correntes em vez de investimentos para nosso desenvolvimento”.

De fato, governos anteriores torraram as privatizações para reduzir dívida interna e despesas correntes.

Mais uma: “Como nossas empresas somente têm o reinvestimento de lucros como fonte de recursos a longo prazo, eu taxaria lucro em zero, e somente taxaria o que sai da empresa como dividendos.”

Recentemente ele indicou Mauro Benevides como seu futuro Ministro, alguém que já conhece há mais de 30 anos e falam o mesmo idioma, ao contrário da dupla Moro / Pastore.

Agora perdoar todo mundo do SPC, taxar o patrimônio desse país de 1,5% ao ano, para acabar com todos os ricos do país em 60 anos, mostra um Ciro no qual jamais votaria.

Apesar das qualidades, não entendo por que Ciro não enfatiza essas positivas, em vez de chamar Moro, Lula e Bolsonaro de canalhas como vive fazendo.

Assim ele pode até chegar no segundo turno, mas os eleitores que ele xingou o tempo todo jamais votarão nele.

Com a palavra, João Santana. Você está dormindo?

Por Stephen Kanitz

  1. A faixa proposta pelo PND é de 0,5% a 1,5% sobre fortunas a partir de 20 milhões. O que equivaleria a 100 mil por ano e atingiria um conjunto de 58 mil pessoas dentre os 210 milhões de brasileiros. Os percentuais sobre grandes fortunas no exterior são bem maiores do que 0,5%. Então, menos desonestidade intelectual por favor.
    #PrefiroCiro

  2. O que anima (“impressiona”) o analista parece ser a possibilidade de Ciro promover um estelionato eleitoral se vier a vencer as eleições, traindo o público dos centros acadêmicos e universidades, ou seja, traindo seus eleitores de esquerda para favorecer o capital. Isso, que seria um motivo favorável para o articulista, é, ao mesmo tempo, o mote da acusação dos detratores de Ciro no seio dos lulistas. Não podem existir “4 Ciros Gomes por aí”. Essa falta de definição não permitiria a nenhum candidato receber votos da esquerda, de um eleitor que não admite ser tapeado. Se esses 4 Ciros Gomes realmente existem, 3 deles são falsos, e seria bom que o único Ciro verdadeiro passasse a falar aos eleitores. Ou seria o Ciro verdadeiro o desonesto que finge ser os outros três?

  3. Não há 4 Ciros. Há um Ciro capaz de modular sua fala segundo o auditório, o que é básico para qualquer orador. Quem se expressa para uma plateia de estudantes do mesmo modo como fala para uma plateia de empresários é limitado. As ideias do Ciro estão num livro. Não há duas versões.

  4. Um auditório integrado por ruralistas certamente difere de um auditório formado por trabalhadores sem terra. Um partido e seu candidato não podem “modular” o discurso para se adequar a cada grupo, tentando conciliar interesses contraditórios; deveriam, ao contrário, definir qual dos grupos, quais interesses de classe, desejam representar e quais irão combater. A modulação do discurso é prática corrente dos partidos burgueses e de todos os partidos da ordem, até mesmo os que se dizem de esquerda como o PT e o PDT, reconhecemos. A narrativa de que é possível conciliar os interesses de classe na democracia liberal é o traço comum a todos esses partidos e seus candidatos. Isso faz parte do próprio mecanismo de reprodução do sistema, conferindo coesão ideológica em defesa da falácia da existência de uma sociedade onde os interesses antagônicos de classe podem ser administrados e conciliados pela democracia liberal, desde que seja governada por um partido capaz de representar todos os grupos, todos “auditórios” simultaneamente, sem favorecer nenhum deles em prejuízo de outros.

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