O G7, os Estados Unidos e a contenção à China

O G7 os Estados Unidos e a contencao a China
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Nos últimos dias, estiveram reunidas na Alemanha as lideranças do G7, composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido. E apesar de todos os holofotes do encontro estarem voltados para os posicionamentos de tais potências, supostas representantes da “democracia” e da “liberdade”, diante da guerra em curso na Ucrânia, uma breve observação de suas principais deliberações denota que suas preocupações estratégicas perpassam muito mais do que os acontecimentos no Leste Europeu.

Os países do G7 anunciaram intenção de garantir 600 bilhões de dólares em fundos públicos e privados para financiamento de projetos de infraestrutura, pelos próximos 5 anos, com ênfase para os países em desenvolvimento. A chamada “Parceria para Infraestrutura e Investimentos Globais” visa contrabalançar a robusta Iniciativa do Cinturão e Rota chinesa, lançada ainda em 2013 e que já conta com mais de 100 países envolvidos em seus projetos, concentrados principalmente no mundo afro-asiático, mas já com numerosas adesões na Europa, na América Latina e na Oceania.

Claramente, tal medida do G7 indica uma inflexão na estratégia de contenção das “democracias ocidentais” e seus aliados às iniciativas encabeçadas pelos chineses e as potências ascendentes do mundo em desenvolvimento. Por um lado, mantém a narrativa de suposta ineficiência dos mecanismos chineses de cooperação, reforçando argumentos esdrúxulos como o da já desmascarada “armadilha da dívida”. Por outro, passam a fornecer instrumentos próprios do bloco para o financiamento de projetos de infraestrutura nos países em desenvolvimento, abandonando parte dos sustentáculos neoliberais que há décadas hegemonizam suas ações.

E na esteira da repercussão de deliberações do encontro, Joe Biden aproveitou para anunciar, na última terça-feira, a inclusão de 5 companhias chinesas em sua lista negra comercial, por supostos envolvimentos com os esforços de guerra russos na Ucrânia. No mesmo dia, também incluiu outras 20 empresas vinculadas à China na lista, por alegadas assistências prestadas ao Irã. Dessa forma, aprofunda a política unilateral e ilegal de sanções econômicas utilizadas pelos Estados Unidos contra os seus inimigos políticos, impondo uma guerra econômica aberta contra algumas das principais companhias chinesas.

Diante deste cenário, algumas tendências claras se esboçam para o conjunto do sistema internacional. A primeira, e mais óbvia, é de que se acirra cada vez mais a contraposição entre a ordem global neoliberal em decadência, de um lado, e a ascendente ordem multipolar, pautada pelos anseios dos países em desenvolvimento, por outro. A segunda, de que se ampliam as margens de manobra para que os países do Terceiro Mundo possam buscar alternativas de alianças políticas e econômicas para seus projetos de desenvolvimento, na medida em que as potências declinantes passam a oferecer meios de financiamento alternativos aos já consolidados pela Iniciativa do Cinturão e Rota chinesa.

As deliberações do G7, por um lado, e as sanções econômicas unilaterais dos EUA, por outro, apontam, portanto, uma sutil modificação e mesmo uma contradição entre os mecanismos utilizados pelo bloco ocidental para lidar com a nova conjuntura internacional. A nós brasileiros, resta lutar pelo triunfo da retomada de um caminho soberano ao nosso país, para que possamos nos rearticular estrategicamente e extrair os maiores dividendo possíveis dessa contenda que há de se arrastar pelas próximas décadas.