Os EUA estão ‘vencendo’ a batalha da Ucrânia

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Por Cesar Benjamin – Não tenho nenhuma fonte de informação especial sobre a situação na Ucrânia. Vejo o que todos veem no noticiário de imprensa. O que penso hoje é um desdobramento do que já postei aqui. Sigo na contramão.

No dia 20, há uma semana, escrevi: “Os Estados Unidos estão buscando tornar inevitável uma intervenção russa na Ucrânia. Assim, conseguirão melar toda a relação da Rússia com a Europa e entregar um imenso abacaxi — a própria Ucrânia, um Estado falido — para a Rússia gerenciar. Com isso, a Rússia só perde.”

Minha hipótese era de que a Rússia evitaria ao máximo uma invasão, entre outros motivos porque a integração energética entre Europa e Rússia, praticamente pronta, deixaria de existir.

Logo em seguida, na reunião anual sobre segurança europeia, o presidente da Ucrânia anunciou que o país se lançaria na construção ou na aquisição de armas nucleares. Foi aplaudido de pé pelos representantes dos países da OTAN.

Foi um xeque-mate. Na Rússia, as razões de segurança nacional passaram a pesar muito mais do que as econômicas.

No dia 22, Putin discursou: “Isso não é uma bravata vazia. A Ucrânia ainda possui tecnologias nucleares soviéticas e meios de disparo de tais armas, incluindo aviação, bem como mísseis táticos operacionais Tochka-U, também de design soviético. É apenas uma questão de tempo. Será muito mais fácil para a Ucrânia adquirir armas nucleares táticas do que para outros estados. […] Não podemos deixar de reagir a este perigo real. Os patronos ocidentais podem contribuir para o aparecimento de tais armas na Ucrânia para criar outra ameaça ao nosso país.”

Como reconheceram experientes diplomatas ocidentais, a Rússia fez o que qualquer potência faria. Mas a invasão, então decidida, contém uma contradição: ela precisa derrotar a Ucrânia causando um mínimo de baixas civis e um mínimo de destruição nas cidades. O uso desproporcional de força levaria a uma rápida vitória militar e a uma grave derrota política.

Daí a chamada “operação militar especial”, realizada até aqui com tropas insuficientes para obter uma vitória decisiva. Por enquanto, até onde posso ver, apenas unidades de reconhecimento do Exército russo entraram nas cidades ucranianas.

Estamos caminhando sobre esse gelo fino. Qualquer erro, para um lado ou para o outro, fará tudo desandar. Ainda não houve nenhuma batalha urbana significativa. Se elas ocorrerem – podem estar ocorrendo agora ou ocorrer a qualquer momento –, o estrago humano e material será imenso, como acontece em qualquer batalha desse tipo. Restará muito rancor na Ucrânia, pela destruição, e a posição internacional da Rússia se deteriorará consideravelmente, com graves consequências. Acho que isso explica a vontade, que a Rússia vem demonstrando, de negociar.

Os Estados Unidos estão vencendo a batalha da Ucrânia, pelo simples fato de ela existir. Mas as consequências de longo prazo são imprevisíveis.

Por Cesar Benjamin