A esquerda e o moralismo fácil – o caso do PSOL e a PEC-5

A esquerda e o moralismo facil - o caso do PSOL e a PEC-5
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A posição espantosa da bancada federal do PSOL em negar votos decisivos para a aprovação da PEC-5, que estabelece algum tipo de controle externo do Ministério Público, tem longa história, que vai muito além do partido. A diretriz está fundeada na sobreposição da moral sobre a política e na concepção de que a Justiça é instituição independente e que não pode se submeter a “interesses políticos”. Como se o MP não fosse instituição profundamente política. Voltemos a fita.

O udenismo moralista é extremamente sedutor para quem faz as denúncias. Chamar alguém de corrupto por motivos diversos é coisa simples, que não estabelece contraposição imediata a interesses de classe e acaba por suscitar ações de fácil compreeensão do grande público. Afinal, trata-se de pregação sem “outro lado”. Nunca jamais houve um debate entre defensores e críticos de corrupção, de forma explícita.

O PT RESSUSCITOU O UDENISMO na campanha pelo impeachment de Fernando Collor, ao colocar a corrupção como problema número 1 do país. Deputados do partido se tornaram virtuais Eliot Ness dos novos tempos e pauteiros dos meios de comunicação, por disporem muitas vezes de informações de cocheira. Recebiam, em troca, generosos espaços em páginas e telas. Collor representou a primeira tentativa da implantação plena do modelo neoliberal no país. Ações contra essa característica quase não foram feitas pela esquerda de então.

Claro que tais debates rasos nunca entraram para valer nas promíscuas relações entre Estado e grandes corporações, nas nomeações de financiastas para a área econômica de governos de direita e esquerda, em trocas de favores pouco claros entre governantes e maganos da iniciativa privada. Nada. Roubo bom para ser denunciado é roubo de merenda, mesmo assim se não envolver complicadas operações financeiras. Esse dá ibope.

O MINISTÉRIO PÙBLICO ganhou superpoderes na Constituição de 1988, muito por iniciativa da esquerda. O viés moralista pseudo-republicano continuou na prática da famigerada lista tríplice para a escolha do procurador-geral. A prática resultava não na escolha do melhor, mas do mais popular entre seus pares.

A mesma tentativa de agradar os meios de comunicação e o moralismo de classe média esteve presente nas desastrosas escolhas do PT para o STF. À exceção de Ricardo Lewandovsky, sequer o centro político foi contemplado. O partido foi atrás de adular aliados, como Sérgio Cabral, ou de aplacar a direita explícita, como Aécio Neves, quando não de terceirizar as indicações para o ex-ministro da Justiça de Lula, Marcio Thomaz Bastos, grande advogado, mas inegavelmente homem de direita e ex-apoiador do golpe de 1964.

A LEI DA FICHA-LIMPA – que serviu para condenar Lula à cadeia, é fruto da mesma concepção torta da luta política. Como é sabido, foi festejada, quando sancionada pelo ex-presidente, em 2010.

Assim, a posição do PSOL em rejeitar uma PEC que estabelecia um mínimo minimíssimo de controle aos arroubos do MP tem pedigri respeitável. Pode-se debitá-lo ao irrefreável flerte com o liberalismo político anti-Estado ainda presente no DNA da esquerda. E, diga-se de passagem, o PSOL tem a melhor bancada federal entre todos os partidos, formada por gente inatacável em qualquer quesito, que demonstra invejável coragem e competência, tanto no Legislativo, como fora dele.

Nosso DNA liberal é sério e precisamos – nós da esquerda – fazer uma grande DR nacional sobre isso. Ou seguiremos dando força à antipolítica que tantos prejuízos já causou ao país.