Há uma disputa de hegemonia na oposição. E isso é bom

Há uma disputa de hegemonia na oposição
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Abriu-se uma disputa pela hegemonia entre a centroesquerda e a direita liberal no genérico movimento “Fora Bolsonaro”. O ato de domingo (12) será expressão disso.

A DIREITA LIBERAL ESTÁ DESEMBARCANDO do governo, mas a saída não se completou. Setores do PSDB e do PSD já pautam a destituição do governo, a partir de manifestações de parcela do empresariado. Contudo, boa parte do capital agroexportador segue firme com o Planalto. Para essa turma, a alta do dólar é mais que bem vinda, pois aumenta a competitividade de seus produtos no mercado global. Como não depende da demanda interna, querem que o país se lixe, desde que o dinheiro não deixe de entrar na caixinha.

No entanto, parcelas do varejo e especuladores internos e externos nas bolsas já retiram numerário do país e o que resta da indústria se retrai, diante da falta de insumos e matérias-primas e da visão do possível apagão elétrico nos próximos meses.

AS TRADICIONAIS BANCADAS do boi, da bíblia e da bala – transversais a quase todos os partidos – são definidoras para o andamento ou não de algum dos 140 pedidos de impeachment que mofam nas gavetas do negociante Artur Lira. A transversalidade dessas bancadas faz com que os comandos partidários conservadores tenham pouco controle sobre seus parlamentares, como se viu no episódio da eleição da mesa da Câmara. Formalmente, PMDB, DEM e PSDB estavam fechados com Baleia Rossi. No voto secreto, o apoio real deslizou para Lira, o bolsominion da mala preta.

O ato de domingo é promovido pelo PSDB – leia-se Dória -, pela Globo e setores da grande mídia, por pedaços da Faria Lima e empresários que não comem carne crua com as mãos e por grupos como o MBL. Ele tem dois objetivos principais, ao tentar colocar massa na rua: 1. Convencer a própria tropa a largar o osso oficial e 2. Disputar com as correntes progressistas na sociedade.

PLANEJADO INICIALMENTE como ato da terceira via – “nem Lula e nem Bolsonaro” – ele tende a mudar de foco, depois da tosquice patrioteira de 7 de setembro e do caminhonaço dos bobos. Adquire um viés de palanque das Diretas redivivo, na convocatória lançada ontem pelo MBL.

A maior parte dos organizadores apoiou o impeachment de Dilma.
É preciso ver com frieza essa marca. Omar Azis, Renan Calheiros e outros se somaram àquela infâmia. Alexandre de Moraes foi indicado pelo golpista e o impeachment só prospera com os votos dessa gente no Legislativo. Vale a pena partir para a briga com esse pessoal agora?

A DISPUTA DE HEGEMONIA dentro da oposição é do jogo e é legítima. O debate a ser feito entre a esquerda não pode ser maniqueísta – ir ou não à próxima manifestação -, mas para se combinar a melhor e mais eficiente maneira de evitar o abismo, que passa, evidentemente, pelo comportamento diante da direita arrependida.

Vale a pena notar que quem se deslocou não foi a esquerda, mas esses setores. É algo importante para se definirem táticas de luta daqui por diante. O jogo está ficando mais sofisticado. Há razões para otimismo.