Ciro Gomes e a crise em Cuba

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Discordo totalmente de Ciro Gomes em relação a Cuba, mas reconheço nele a virtude da coerência, cada vez mais escassa no atual ambiente político. Quem defende a democracia pluripartidária-eleitoral como um valor em si mesmo, como Ciro, não pode ver no regime cubano uma referência, e quem assim o considera não tem moral para se opor a Bolsonaro sob o pretexto de que ele ameaça a democracia.

Tampouco se pode dizer que Ciro trai o trabalhismo por reverberar não-comunismo ou anticomunismo, como queiram chamar. Getúlio Vargas, figura máxima do trabalhismo brasileiro, publicou em 1952, já filiado a um partido assumidamente trabalhista, um livro chamado “O bolchevismo é o nosso inimigo interno”. Não que eu ache que Ciro seja herdeiro de Getúlio ou de qualquer trabalhismo, mas a diferença não reside na aversão de Ciro ao comunismo, pois o trabalhismo surgiu de um anticomunismo muito mais visceral.

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Não é função dos políticos brasileiros tomar partido na crise cubana entre a revolução/ditadura e o imperialismo/democracia, como prefiram chamar. Além disso ser um problema específico dos cubanos, o Brasil, sendo maior e mais forte que Cuba, não pode definir seus termos políticos internos em função dos de um país menor e mais fraco.

O que o Brasil deve procurar, para fins de expansão do seu raio geopolítico no continente, é afastar a influência estadunidense da América Latina, pois os EUA são o único impedidor externo da hegemonia brasileira nas Américas.

A melhor forma para isso é o Brasil se oferecer de mediador nos conflitos internos de Cuba, deslocando os EUA da região e colocando o governo e a oposição cubanos na órbita brasileira.

Temos políticos para pensar assim, em termos de uma estratégia internacional própria? Ou continuaremos seguindo ideologias falidas da guerra fria que foram criadas para servirmos de fazendão seja de um lado, seja de outro?