Por que Lula não aceita um debate com Ciro Gomes?

Por que Lula não aceita um debate com Ciro Gomes glenn greenwald pdt pt
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A sessão de hoje da CPI da Pandemia foi morna diante da retranca bem sucedida do ex-ministro da Saúde, General Pazuello, que conseguiu bloquear os ataques do relator Renan Calheiros pelos lados e do presidente Omar Aziz pelo meio de campo. O jogo mais animado se deu na pré-campanha de 2022 entre Lula e Ciro Gomes no Twitter.

O ex-presidente petista reclamou das porradas do ex-governador trabalhista, e disse que apesar dos chutes na canela, não pretende brigar com presidenciável que já foi seu ministro. Lula disse que queria que Ciro fosse um amigo. O líder cearense do PDT, por sua vez, dobrou a carga no contra-ataque e respondeu que Lula foge do debate e usa “bajuladores e seu gabinete do ódio” para brigar.

Em seguida, Ciro elencou diversas contradições nos governos do PT e insistiu para que os dois debatam seus respectivos projetos de país, e reflexões sobre a experiência petista no poder, as causas da profunda crise que vivemos, e propostas para o futuro.

A militância cirista, a famosa turma boa que não brinca em serviço, rapidamente subiu para os trending topics do Twitter a hashtag #DebateCiroELula. Glenn Greenwald, fundador do The Intercept e hoje na Carta Capital, havia proposto esse debate em entrevista com Ciro que prontamente aceitou. Porém, Lula não topou sequer enviar seu poste. Glenn foi no Twitter do petista lembrar do fato:

O fato é que Lula não aceita um debate com Ciro porque sabe que seria demolido. O ex-governador do Ceará não apenas é um debatedor sagaz e temido pelos adversários, como tem críticas muito antigas e sólidas aos governos do PT baseadas no desastre econômico e social das políticas neoliberais adotadas por Lula desde seu primeiro dia de mandato e aprofundadas pela incompetente Dilma Rousseff. Além disso, Ciro possui um Projeto Nacional claro, com começo, meio e fim, propostas concretas e realistas baseadas nas condições contemporâneas do Brasil. Lula, por outro lado, apenas possui chavões como “fazer o povo voltar a comer carne”, “colocar o pobre no orçamento”, “fazer o Brasil voltar a ser respeitado no mundo”, etc.

É inegável que o ex-presidente é um gênio da retórica e da comunicação popular. Porém, é só isso. Ele não tem nada de novo para falar para o povo brasileiro, apenas pode repetir bordões espertos que expressam o assistencialismo neoliberal de seus governos. Lula busca pintar os desastrosos governos petistas como um passado idílico, no qual o povo era feliz com empregos de baixo salário em atividades de baixa produtividade e pouco valor agregado, assistência social focal do Consenso de Washington, e financiamento público do mercado privado de baixa qualidade da educação e da habitação. De concreto mesmo, o que Lula pode oferecer é a abertura do capital da Caixa Econômica Federal para o mercado financeiro. Aí sim, para os bancos, o passado lulista realmente é idílico, e são eles os verdadeiros destinatários das “propostas” de Lula para o Brasil.

Aliás, Lula é tão organicamente submetido ao capital financeiro que sempre foge das perguntas, quando não nega abertamente, sobre revogação do Teto de Gastos, de privatizações, da entrega de campos de petróleo, etc.; enquanto Ciro, de forma corajosa e até meio imprudente, vive dando declarações duras sobre tomar de volta todo patrimônio nacional entregue a estrangeiros, bem como derrubar o Teto de Gastos e outras dessas reformas neoliberais como a Autonomia do Banco Central.

Pois bem. Seria espetacular ver os dois maiores políticos da esquerda brasileira debaterem essas questões todas. Ciro não tem medo das críticas que pode receber e está disposto a enfrentá-las, mas Lula não. Se a entrada de João Santana na equipe de Ciro já deixa o petista apavorado não apenas pela capacidade do melhor marqueteiro da América Latina, como pelo fato de ele saber todas as táticas comunicacionais e as telhas de vidro do ex-presidente, imagine em um debate eleitoral baseado não apenas nos fatos como na estratégia discursiva daquele que foi capaz de eleger a inepta Dilma. O desastre do governo Dilma foi construído com base em uma fantasia sobre Lula, e agora João pode fazer a engenharia reversa disso.

Mas não é preciso pressa. O debate entre Lula e Ciro vai acontecer. Glenn Greenwald estaria prevento como mediador pelo convite pioneiro, mas seria ainda mais espetacular um debate presidido por José Luiz Datena, na Bandeirantes, para que não apenas a classe média de esquerda mobilizada na internet pudesse ver. Como Lula é covarde e não vai aceitar nada disso, vai ficar para William Bonner mediar o debate de segundo turno de 2022, no histórico acerto de contas entre o petismo e o trabalhismo.

 

  1. O esforço que o pindamonhangabense faz para aparecer chega a causar dó. E, comumente, mente. Trabalhista que nunca foi trabalhador. Nacionalista que não hesitará vender o Brasil a amigos, como, por exemplo, o cara que comprou a Siderúrgica Nacional, o Steinbruch. Falastrão, Ciro só engana os trouxas.

  2. Primeiro, do ponto de vista da luta mais imediata contra o fascismo, em defesa da democracia e da resistência contra a barbárie neoliberal, Ciro pertence ao campo progressista. Representa a posição de classe da pequeno-burguesia que defende a humanização do capitalismo, um projeto, a meu ver, mais utópico do que a defesa da substituição do capitalismo pelo socialismo (nenhum projeto que não satisfaça aos interesses da plutocracia financeira poderá ser implementado através dos instrumentos permitidos pela democracia de fachada em que vivemos, sendo implacavelmente abortado pela força repressiva do Estado que representa os interesses de classe da plutocracia, mesmo que esse projeto corresponda a uma simples tentativa de tornar a exploração dos trabalhadores menos dura, um pouco mais “humana”, suportável). Por isso, ninguém pode acusar Ciro de ter mudado de posição ao defender esse projeto, pois seu programa é praticamente o mesmo desde os tempos em que participou da fundação do PSDB. Portanto, os ataques contra Ciro por parte da parcela do PT que se identifica com o Brasil247, intimamente associada ao Partido da Causa Operária, somada aos “exclusivistas historicos”, sectários, desse partido, entre eles, a sua presidenta, são produtos de condenável desonestidade intelectual. Por outro lado, as acusações sem provas de Ciro (e de seus ciristas amestrados) contra Lula, tentando surfar na onda de calúnias produzidas na esteira da Lava-Jato, são igualmente condenáveis produtos de desonestidade intelectual. PT e PDT ocupam lugares que correspondem, atualmente, a interesses de classe muito parecidos, determinados pela instabilidade ideológica da pequena-burguesia que hegemoniza a direção desses dois partidos, apesar de o PT ainda (somente Deus poderá dizer até quando) contar com alguma substância proletária, em razão do acúmulo de forças nos movimentos sociais nas organizações de base, nas décadas de 1980 e 1990. Os mais de 2 milhões de filiados do PT representam uma força expressiva, relativamente sólida, infelizmente quase exclusivamente empenhada nos dias de hoje na luta institucional, defendendo as candidaturas desse partido, mercadejando ilusões (nisso pouco se diferencia do PDT) de que a sociedade brasileira poderá ser transformada pelo modo petista de governar (e não pala luta do proletariado contra a burguesia pela tomada revolucionária do poder, única forma efetiva de defender os interesses de classe dos trabalhadores e do povo). Isso posto, podemos finalmente comentar a pergunta “por que Lula não aceita um debate com Ciro Gomes”, que me parece extremamente tola. A resposta a ela é óbvia: não aceita porque o lugar desse debate, do ponto de vista da luta institucional, é o segundo turno das eleições. Ciro terá, portanto, que se credenciar a esse debate, derrotando Bolsonaro no 1° turno. O PDT perde seu tempo atacando Lula e o PT, pretendendo conquistar corações e mentes dos milhões de simpatizantes desse partido, pois trata-se de campo extremamente sólido e resiliente, que revelou a sua força mesmo nas adversidades vividas durante as eleições em 2018. As chances de Ciro passam pelo desgaste de Bolsonaro. Não haverá polarização Lula x Ciro Gomes sem uma alteração da dinâmica política que, hoje, opõe Lula a Bolsonaro. Ataques ao PT, sobretudo depois da lamentável decisão infantil que levou Ciro à Paris em 2018, somente tendem a acirrar os ânimos entre indivíduos que deveriam se concentrar no combate ao fascismo e às milícias que nos ameaçam. Não somente quem quase foi assassinado por milicianos, como eu, por motivação política, deveria ter a consciência da força deletéria dessas milícias, e da prioridade absoluta de se lutar contra suas ameaças de golpe e de barbárie política. O desgaste de Bolsonaro interessa mais a Ciro do que a Lula, do ponto de vista das eleições de 2022 (embora essas eleições não deveriam estar pautando a luta contra Bolsonaro em 2021). Se Ciro quiser debater com Lula, terá que derrotar Bolsonaro no 1° turno, conquistando as simpatias dos eleitores que não votam no PT no 1° turno.

  3. Ciro Gomes pede “fique em casa” enquanto PT e movimentos saem às ruas neste sábado 29 de maio de 2021.

  4. Ciro tem ‘projetos’ e ‘promessas políticas’, Lula tem portifólio e currículo! Já esteve lá e o que fez deu certo! Lula não precisa provar mais nada pra ninguém pois já foi, em dois mandatos, o melhor presidente deste país, enquanto Ciro tem tudo a provar. Do jeito que o Brasil está, não podemos nos dar ao luxo de encarar mais uma incerteza se temos o cara que já deu certo, concorrendo novamente.

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